O ano era 2002.
XIII FESTIVAL MPB SESC-FUNJOPE.
Coordenação Geral: Chico Noronha e eu, Edileide Vilaça.
O Júri Oficial era composto por gente bacana, com mente aberta, incluindo muitos amigos e amigas, entre eles: Linaldo Guedes, Cláudia Carvalho, Renata Arruda, Geno Costa, Gustavo Magno, Cátia de França, Pedro Osmar, Ricardo Anísio, Fábio Queiroz, Nathalie de Lima, Fabiano Diniz, Anay Claro e Pedro Osmar.
E ainda tinha o Júri Crítica, com as queridas Ana Felipe, Célia Leal e Rogéria Araújo.
Na apresentação do evento: eu, Henriqueta Santiago, Ednamay Cirilo e Jhon Anderson.

Os festivais MPB Sesc marcaram época e gerações em João Pessoa. Não existia essa sandice de redes sociais, fake news e nem selfie de felicidade inventada. Tanto que quase nem temos fotografias de muitos encontros memoráveis. Vivíamos o aqui e o agora, intensos e verdadeiros, que ficaram registrados no filme de nossas cabeças.

Éramos tão jovens e sonhadores, apaixonados pela vida, arte e cultura, e também com muita consciência política e social. A maioria cria de Jomard Muniz de Brito. Ops, e a geração prisioneira das “big techs” vai lá saber e tampouco tá se lixando pra quem foi Jomard e seus abismos acadêmicos na divisa de Pernambuco com a Paraíba? É, sou um tanto saudosista, eu sei. Gosto de ser assim. Não faço questão por número de seguidores. Mantenho até as redes fechadas. Não me escravizo por postagens, curtidas e em nada. Tô nem aí pra isso. Se forem me avaliar e selecionar pelo número de seguidores, vão me perder.(risos).

Pois bem, voltando para a edição de 2002 do festival, foi uma das mais concorridas. Tinha muita torcida organizada. O Sesc era o point de ebulição cultural, onde todas as tribos se encontravam. Um entrançado pra lá, pra cá, pro Laveritá, local preferido dos jornalistas e intelectuais. Cortado pelo Parque da Lagoa, do outro lado, subindo a Rua Diogo Velho, a concentração era na Residência Universitária Feminina. Logo adiante, a Boate Notórios (a preferida dos meninos) e, em frente, o Bacos’Bar (o preferido das meninas). Mais pra cima um pouquinho, lá em frente à Cagepa, pra completar, teve um tempo o ousado Rhythm and Blues.

Viva o Centro! Que sorte a minha. Posso dizer que sou de uma geração que viveu o centro sem medo de ser feliz, assaltado ou coisa pior. Viva a liberdade!

Hoje, 7 de setembro, de manhã, o celular vibra. Não atendi porque estava na palestra no Centro Espírita Viana de Carvalho (um lugar de oração e paz). O celular volta a vibrar insistentemente. Pensei: deve ser importante. Atendi apenas pra ouvir. Era Conceição Serra e Leda Almeida para dizer que Juliana Müller fez a viagem para o mundo espiritual.

Fui procurar no meu arquivo dos obsoletos CDs e encontro Juliana na 11ª faixa, entre as doze que foram para a final do XIII MPB Sesc, com a música Pedra de Amolar, que ela fez em homenagem a Seu Dias, um açougueiro que ela conheceu lá no bairro das Capoeiras, na minha Cajazeiras, pai de uma amiga da época do Colégio das Dorotéias.

No disco Calango do Nordeste, inspirado e todo gravado na Paraíba, tem uma interpretação que nunca esqueci. O rasgo da alma no canto da música Rasga Mortalha é algo surreal.

Compositora e cantora, dona de uma voz única, com um vibrato muito singular e especial, Juliana fez seu estilo viajando por diversas culturas por onde andava. Basta ouvir a faixa que deu nome ao disco, onde ela carrega no ritmo e sotaque como uma autêntica nordestina.

 

Para Conceição Serra, ela deixou – Maria Carabina.

Juliana sempre teve uma saúde um pouco frágil por conta da diabetes. Por outro lado, bem antagônico, era uma mulher tão potente, tão intensa. Acho que nem ela dava conta de tanta força. Era visível e incrível a vontade de viver!

Sua paixão pela vida: a música. Soube que fez um show 20 dias antes de fazer a passagem, parecia que estava a se despedir – um encontro entre músicos em celebração à vida e carreira de Juliana Luise Müller (@juudejo).

VIDEO DO SHOW DE DESPEDIDA – 17/08

Morreu na manhã dessa sexta-feira, 6, 61 anos, no bairro Boa Vista, em Blumenau cidade onde nasceu, no Estado de Santa Catarina. “De gosto alternativo, a cantora de olhos profundamente cheios de mistério, cantou MPB, rock, blues, reggae, pop… Ou seja, uma mulher de gosto eclético! Juliana passeou pelas notas de uma latino-americana ao microfone, em serenatas com violões de cultura espanhola, até uma sulista hipnotizada por calangos do norte do Brasil ou, até mesmo, uma roqueira charmosa e muito sedutora, em voz de veludo, de namoro com o blues”.
Como é meu estilo preferido, termino com uma taça de vinho tinto e um blues gravado na Paraíba, ao som da eterna Juliana Müller, que um dia nos embalou nos festivais e bares da velha e boa Philipéia.

Tin tin.
Valeu, Ju!