Foto: ONG Casa Formosa

A vida é uma passagem para todo mundo. Aliás, uma passagem muito breve, brevíssima. Durante o transcurso, cruzamos com gente de toda ordem, boas e más, positivas e negativas, para nós ou para a humanidade ou para tudo no mundo. Pois bem, nesse domingo(19), antes que o sol se derramasse pela praia onde ela palmilhou as areias por milhares de vezes, faleceu Dona Regina. Como se tratava de uma pessoa boa e positiva, temos obrigação espiritual de registrar sua passagem, deixando-a gravada em mentes e corações que não a conheceram. Era assim, por Dona Regina, que todos a conhecíamos, e a amávamos, na praia de Baía Formosa, sede do município colado à divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte. Uma praia amadíssima por paraibanos, há décadas.

Um dia, há mais de 30 anos, compramos uma casinha por lá, e viramos vizinhos de Dona Regina. Antes disso, já frequentávamos Baía Formosa, pois minha irmã Helena havia adquirido casa ali ainda no início da década de 1980. A mesma que adquirimos depois. Dessa forma, lá se vão 40 anos de convivência.

Muito amiga de minha mãe, as duas conversavam por horas. E mamãe não era dada a amizades muito automáticas, não! Precisava preencher certos requisitos de sinceridade e de bondade. Meus filhos e sobrinhos, portanto, cresceram vendo e ouvindo e provando dos quitutes e das histórias contadas por Dona Regina todos os dias, na condição de uma espécie de entidade (como bem qualificou, hoje, aqui mesmo no Facebook, Bia Fernandes, outra amante crônica de BF) daquela encantadora e única baía do Rio Grande do Norte.

Cunhadas e cunhados, amigos e amigas, também frequentaram a casa e, igualmente, conheceram e amaram Regina, nesse tempo todo. Consta que um dia em sua longa vida, Regina, ainda muito jovem, ficou meses “esperando, parada, pregada na pedra do porto, com seu único velho vestido, cada dia mais curto” por um homem “que falava e cheirava e gostava do mar” a quem amou perdidamente, mas que nunca mais apareceu nem deu notícias. Desde então, tomou conta de sua vida e daquele primeiro filho. Casou-se, teve outros, e cuidou de todos praticamente sozinha.

Dona Regina era pau para toda obra. Nunca esmoreceu em sua missão. Enquanto seus vizinhos originários iam vendendo suas casas à beira-mar, ela manteve a sua, até o último dia de sua vida. Com um coração doce e uma alma intrépida, ela era mais do que uma habitante; era o espírito vivente de Baía Formosa. De todos na praia se fez amiga e de todos era muito querida. Sua intrepidez por vezes suplantava sua doçura quanto se tratava de agressões à natureza em Baía Formosa. Virava uma tigresa!

Portanto, descanse em paz, querida guardiã de BF. É o que te desejamos, com todo o coração, França e eu, que muito te amamos. Que as ondas te embalem suavemente em teu descanso eterno, e que tua lembrança continue a inspirar coragem e ternura em nossos corações. A saudade é grande, mas a lembrança que deixaste é maior ainda. Que tua doçura e tua intrepidez continuem a viver em cada um de nós, enquanto seguimos caminhando pelas areias que um dia fizeram parte de teu lar, na Terra.



Por Sérgio Botelho - Jornalista