A cassação do mandato do deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) por unanimidade pelo TSE foi o fato político da semana e abre campo para algumas reflexões. O ex procurador do Ministério Público Federal (MPF) extrapolou as suas funções técnicas aparentemente seduzido pelo canto da sereia da fama. Um erro fatal que teve consequências mais rápidas do que poderia se imaginar.
A estratégia de procurar proteção na imunidade de um mandato eletivo federal não fucionou. Ter deixado as suas funções como procurador com rastros de preferências políticas e ideológicas foi totalmente inadequado.
Recapitulando rapidamente a história. Deltan se tornou uma celebridade durante a Operação Lava-Jato. A famigerada exibição de um Power Point denunciando supostos esquemas de corrupção com o presidente Lula como personagem central teve grande repercussão na opinião pública brasileira. E Deltan teve o seu minuto de fama.
Do dia pra noite ele começou a ser convidado para palestras, publicou livro e se tornou um “astro” da mídia. Lembrava um pouco os tempos de Caçador de Marajás do ex-presidente Collor, que até hoje está enrolado com a Justiça.
Com a fama repentina Deltan sonhou que poderia ser muito mais do que um procurador, com um super salário para realizar suas funções tecnicamente. Acontece que o mundo não roda, capota. Segundo as investigações ainda em curso, Deltan teria autorizado uma série de ações que envolviam diárias e passagens aéreas. Ele nega, mas alguém da corregedoria do MPF viu um exagero nos gastos com dinheiro público e abriu uma investigação.
Assim o caçador justiceiro tornou-se a caça dentro da própria instituição que trabalhava. Mas isso não deve tê-lo preocupado já que havia se tornado um personagem famoso da vida pública brasileira. Ao invés de ter paciência e resolver esse problemão pediu exoneração do MPF e filiou-se num partido político. Um erro enorme porque assim confirmava as suas preferências políticas.
Primeiro e principal ponto: teoricamente as ações de um procurador devem estar acima de qualquer preferência ideológica. O Ministério Público é o vigia das atividades com dinheiro público que podem trazer dano à Nação. Então como um procurador que estava condenando a turma de um determinado espectro político poderia se ligar a um grupo antagônico ao dos seus investigados, num curto tempo depois de deixar o MPF? Uma incoerência enorme e eu diria até amadorismo.
Mas Deltan ainda teria mais um minuto de fama se elegendo deputado federal no Paraná com mais de 300 mil votos. Aparentemente os seus problemas teriam terminado. Só que não. O TSE entendeu que a sua exoneração do MPF foi para escapar de possíveis condenações com as investigações em curso, o que o colocaria na Lei da Ficha Limpa.
Como numa fábula Deltam de caçador passou a ser a caça, e depois foi cassado. Assim teve outro minuto de fama na mídia nacional que parece ser o derradeiro. Ele deve se preparar para o esquecimento porque na politica só tem palco quem está no poder. O pior que vai precisar de muitos recursos para se defender dos problemas deixados pra trás no seu cargo anterior.
Uma outra questão que Deltan parece não ter entendido é que como deputado federal estaria entrando numa arena com vários desafetos. Afinal como procurador havia denunciado políticos de diversos partidos com os quais se encontraria na Câmara. Entrou na jaula do leão.
Abandonar um alto salário e estabilidade por uma aventura política movida pelo ego e a vaidade tem um preço kármico do qual ninguém pode fugir. O mundo político é um moedor de carne para os incautos que se acham acima do bem e do mal. E uma hora a fatura vem.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Diário de Vanguarda