
Hoje o planeta Terra acordou com a notícia da morte do Papa. A perplexidade do fato imediatamente deu lugar às reflexões necessárias sobre o seu legado para um mundo em convulsão. Também já aparecem nas redes sociais algumas reações de ódio. Ataques extremistas sobre os quais não vamos tratar aqui.
Com oitenta e oito anos o Papa dava sinais de debilidade há tempos. Sua saúde afetada, todavia, jamais abalou sua lucidez e firmeza de princípios. Sempre fiel ao legado de Jesus Cristo, defendeu os pobres, os mais vulneráveis, os que vivem à margem em um mundo de ostentações e aparências.
Desde João XXIII, provavelmente, foi Francisco que mais encarou de frente as contradições da Igreja Católica. Fissuras desnudadas, por exemplo, pelo escritor Umberto Eco no romance O Nome da Rosa. A exemplo de Jesus Cristo, Francisco não foi um líder exclusivo de uma Igreja. Foi líder espiritual de um mundo em turbulenta transformação. Extrapolou as fronteiras da Igreja Católica se fazendo respeitar pela fé que professava, mas também pelos princípios que defendia.
Ao priorizar os excluídos era acusado de marxista e respondia que o que fazia era a defesa do Evangelho de Jesus Cristo. Reconheceu o aquecimento global como um grande problema criado pela humanidade. Denunciou um sistema econômico que explora e exclui os pobres. Denunciou a “globalização da indiferença” pedindo aos países que abrissem as portas para os refugiados.
Em relação ao celibato, deixou claro que “é uma regra da vida e não um dogma de fé”. Abriu as portas da Igreja para discutir questões da homoafetividade. “Quem sou eu para julgar”, dizia. Ele foi radicalmente contra a pena de morte. Criou um tribunal especial para julgar os bispos coniventes com os casos de abuso sexual de crianças nas igrejas. Lembremos que algumas lideranças religiosas defendem que esses casos não sejam denunciados.
Francisco chegou quebrando paradigmas. Aos poucos foi abolindo as pompas da Igreja. Trocando-as pela simplicidade dos encontros. Jorge Mario Bertoglio (seu nome de batismo) foi o primeiro Papa nascido fora do continente europeu. Nasceu em Buenos Aires, na Argentina. Nos treze anos em que esteve como líder máximo de uma das religiões com maior número de adeptos no mundo construiu um caminho de tolerância, de paz, solidariedade e respeito à condição humana.
Em tempos de cruzes sendo queimadas em batalhões da Polícia Militar de São Paulo, no sanguinário modelo Ku-klux-klan. Em tempos de ostentações supremacistas e defesa de autocracias, espero que a Igreja Católica e o mundo compreendam a grandiosidade do legado de Francisco. Ele foi um fiel pregador do Evangelho de Jesus Cristo. Defensor de um mundo mais tolerante, mais justo e igual para toda a humanidade.