Cerca de 5 mil mulheres irão participar da 15ª Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, nesta sexta-feira (15), em Areial (PB). A concentração será a partir das 8h, na Praça Teotônio Barbosa. Neste ano, sob o tema Mulheres em defesa do território: Caatinga viva, floresta em pé, elas vão afirmar a importância do bioma da Caatinga para o enfrentamento da emergência climática.
O evento vai contar com a participação de Lia de Itamaracá, como atração cultural. A 15ª edição da marcha ocorre na véspera do Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, comemorado anualmente em 16 de março.
A marcha terá a participação das agricultoras do território de atuação do Polo da Borborema, que é um coletivo de 13 sindicatos rurais de municípios da Borborema. O território formado por esses municípios é chamado de Borborema Agroecológica. Além dessas mulheres, virão outras de toda a Paraíba e de vários estados do Nordeste, como Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará. Neles, há um processo bem avançado de supressão da vegetação para a instalação de parques e usinas eólicas.
Na marcha, as mulheres vão defender a Caatinga em Pé. “O que resta dessa vegetação (menos da metade da mata) está sendo derrubado para a instalação de enormes parques industriais para transformar a força cinética dos ventos e o calor do sol em energia”, afirma a AS-PTA AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, em nota.
Há três anos, as mulheres agricultoras chamam atenção da sociedade para os impactos que as indústrias de energia renovável provocam nas comunidades rurais. Elas defendem que há outros modelos de geração de energia, socialmente e ambientalmente, viáveis e de forma descentralizada, ou seja, cada agricultor e agricultora poderia produzir a sua energia. Por exemplo, no território que tem muito sol, poderia ser instalado, nas casas dos agricultores(as), placas de energia solar.
Em 2022, o MapBiomas detectou, pela primeira vez, a produção de energia renovável como uma das principais atividades responsáveis pelo desmatamento. Uma área equivalente a quatro mil campos de futebol ou quatro mil hectares teve a vegetação derrubada para a instalação de placas solares e das gigantes torres eólicas.
O bioma Caatinga
A Caatinga é reconhecida cientificamente como um dos biomas mais eficaz no sequestro do carbono da atmosfera e na fixação do mesmo no solo e nas plantas. Responsável por 60% do efeito estufa – barreira que impede que a liberação dos raios infravermelhos para o espaço aumentando a temperatura do planeta – o Dióxido de Carbono (CO²) pode perdurar na atmosfera por até mil anos. A vegetação faz o importante papel de absorver o carbono e o desmatamento libera o carbono retido.
Preparação para a Marcha pela Vida das Mulheres e Agroecologia
Por reconhecer a importância da Caatinga em Pé, o Polo da Borborema tem promovido formações de jovens e mulheres sobre o bioma desde o ano passado. A última formação, realizada em plena mata, aconteceu no último 29 de fevereiro.
Aproximadamente 35 pessoas, na sua maioria mulheres – lideranças sindicais e comunitárias, coordenadoras e professoras das escolas do campo, agricultoras familiares, assessoras técnicas – passaram algumas horas em plena Caatinga para aprender mais sobre a proteção ao solo e a alimentação ao lençol freático quando a mata está sobre o solo, entre tantos outros conhecimentos sobre a fauna e flora desse bioma exclusivamente brasileiro.
“Se o solo estiver descoberto, chega a perder 65 mil quilos por cada hectare numa chuva de 100 milímetros (ml)”, destacou o professor Daniel Duarte do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, campus Areia.
“Se o solo estiver coberto, de cada 100 ml de água que cai em um metro quadrado (m²), 50% se perde por evaporação ou porque escorre e 50% fica no solo. Destes que se infiltram, metade vai lá para baixo, abastecer os lençóis freáticos. Quer dizer que, em cada m² da Caatinga preservada, 25 litros de água se acumula abaixo do solo a cada 100 litros. Se não tiver cobertura vegetal, o acúmulo chega a zero”, complementa o professor durante a aula ao ar livre.
A atividade de campo foi uma das previstas no processo preparatório para a 15ª edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. É o terceiro ano que o tema central é a defesa do território produtor de alimentos saudáveis da invasão das indústrias de energia renovável, incompatíveis com a agricultura familiar pelas inúmeras alterações provocadas no ambiente, como a aerodinâmica dos ventos, que interfere na umidade do solo e gera movimentos da corrente ar como redemoinhos.
Sobre a Marcha
A Marcha Pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia acontece desde 2010, através do Movimento de Mulheres do Polo da Borborema. A cada ano, a mobilização acontece num dos municípios de atuação do Polo com um tema específico.
Os municípios que fazem parte do Polo da Borborema são: Solânea, Algodão de Jandaíra, Arara, Casserengue, Remígio, Esperança, Montadas, Areial, São Sebastião de Lagoa de Roça, Lagoa Seca, Alagoa Nova, Massaranduba e Queimadas