Por: Raimundo Augusto de Oliveira (Cajá)  Sociólogo, Analista Político. 

Passados 100 (cem dias) do atual governo, eleito legitimamente pelo voto popular e pelo maior, senão melhor, sistema eleitoral do mundo, o sistema eleitoral brasileiro – eleito para comandar a nação de 2023 à 2026. Uma disputa acirrada de projetos, e narrativas antagônicas, porque não dizer de civilidade.

Sabíamos das grandes dificuldades e desafios que a força política que conquistou o maior número de adeptos teria pela frente. A desconstrução de 4 anos do [des]governo passado, que levou o país e o seu povo a um estado de isolamento internacional, da ineficiência no enfrentamento à pandemia, que levou à morte mais de 700 mil brasileiros e brasileiras pelo negacionismo. Ao ataque ao meio ambiente, a Amazônia brasileira e o pantanal, além dos povos originários, em especial aos povos yanomamis, ao povo negro e as mulheres, que culminou com uma crescente onda de feminicídio.

O incentivo desenfreado ao armamento pela população, fez atender, sobretudo, aos interesses da indústria armamentista e colocando nas mãos, de forma desenfreada e irresponsável, armas a quem podia comprar e/ou ter acesso. Isso ocasionou aumento da violência social e doméstica, do relacionamento abusivo até a morte, sob um sentimento primitivo e machista de posse.

A violência urbana não se resolve armando a população ou àqueles que podem possuir armas. Se resolve com um Estado forte e presente, com segurança pública preparada, além de um melhor equilíbrio da riqueza nacional diminuindo os bolsões de miséria.

Os ataques às universidades e à cultura foi outro caminho do [des]governo passado que teve atenção especial nesses cem dias de novo governo. Um povo sem educação, sem formação digna e sem cultura será sempre um povo manipulado por algum mito transloucado terraplanista e usando o nome de Deus em vão.

A história da humanidade bem nos relata isso, bastando apenas nos remeter um pouco ao nazi fascismo – regimes estes que deixaram marcas perpétuas na humanidade. E para não falar de outras civilizações e/ou povos, podemos destacar os 21 anos de ditadura militar no Brasil, que o ex gestor tanto reverenciava e homenageava – algozes e torturadores daqueles que resistiram e deram suas vidas pela democracia e pela liberdade.

Cem dias do retorno à civilidade, da abertura dos portos e aeroportos brasileiros ao mundo, da inclusão de um país de porte continental aos interesses globais, que vive problemas também de porte continental, fruto de um modelo social patriarcal, desigual, branco, racista, com fortes resquícios escravocratas.

É preciso também refletir por que no Brasil, mais precisamente desde 2017, aumenta-se o número de tragédias como a ocorrida em Santa Catarina, que enlutou o país pela morte de quatro crianças dentro de uma creche. Não foi o primeiro caso de ataque de um maníaco a uma escola pública, o que já é quase rotina nos EUA, no Brasil aconteceu em 2018, 2019 e 2020.

Não podemos esquecer o caso do incêndio na boate Kiss em Santa Maria/RS, que matou mais de 250 jovens, do rompimento das barragens de brumadinho da Vale, empresa que foi privatizada e que dizimou tantas famílias. Precisamos tirar lições de tudo isso. Esse modelo de sociedade egoísta e gananciosa se esgotou e o preço a pagar tem sido alto. As vítimas? Crianças, mulheres, jovens, negros e negras, indígenas, idosos e outros tantos grupos que compõem o tecido social e que é negado por um modelo de sociedade pautado na unicidade imposta e não reconhecendo a nossa diversidade humana e os seus diversos valores.

O tempo é de ESPERANÇAR DO VERBO ESPERANÇAR. Apesar das resistências e da viseira colocada nos olhos de parte significativa da sociedade brasileira. Desesperar? Jamais! Aprendemos muito nestes tempos.

 

Raimundo Augusto de Oliveira (Cajá)  Sociólogo, Analista Político.