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Os primeiros humanos chegaram às Américas entre 20 mil e 30 mil anos atrás, vindos dos arquipélagos do Oceano Pacífico como o Havaí, Polinésia, Samoa, etc., para o caso dos polinésios e aborígenes; e, do nordeste da Ásia, os esquimós, (nesse caso das ilhas japonesas e siberianas), em várias ondas migratórias, cruzando os oceanos em barcos, se utilizando das ilhas como pontos de escalas e adaptação.
Levaria milhares de anos para que as Américas e o Caribe fossem ocupados por esses povos de pele amarela e vermelha e olhos puxados. Foi assim que, a partir das zonas costeiras do Pacífico, nosso continente começou a ser povoado pela espécie humana. À medida que sua população crescia e outras levas migratórias chegavam, a ocupação ia se estendendo para o interior do continente até chegar ao interior do continente norte americano e, posteriormente, à América do Sul. Estima-se que em todo o continente americano viviam cerca de 50 milhões de “índios” – como passariam a ser chamados – quando da chegada dos europeus. Se esses povos já estavam aqui há cerca de 30 mil anos, conclui-se que a população ameríndia já havia alcançado sua cota de equilíbrio demográfico alguns séculos antes. O crescimento da população era limitado pelos recursos naturais e o número absoluto de indivíduos era o melhor indicador do que o ambiente podia lhes oferecer em termos de coleta, caça e pesca. Mais florestas e rios representavam mais alimentos; mais alimentos, mais população.
A população indígena existente na América do Sul no final do século XV ficava entre 18 e 23 milhões de pessoas. Quanto ao Brasil, os cálculos mais aceitos por antropólogos indicam que havia aqui entre 4 e 6 milhões de nativos quando da chegada dos portugueses. A abundância ou escassez da caça em alguns lugares e as guerras tribais forçavam a distribuição dessas populações pelo interior, litoral e montanhas, levando alguns grupos ao isolamento. Muitos grupos se distribuíram ao longo do litoral leste do Brasil pela grande oferta de alimentos que a biodiversidade da mata atlântica oferecia. Seriam estes, mais tarde, denominados Pataxós, Tupinambás, Goytacazes, Potiguares, Tamoios, Tabajaras, etc., a terem a infelicidade dos primeiros contatos com os invasores. A devastação contínua de seu habitat e o conflito com portugueses e franceses levaram muitos destes povos à um reduzido número de indivíduos, quando não à sua extinção.
Na América do Sul a população ameríndia se encontra mais preservada na Bolívia, onde representa 50% dos habitantes. Seu habitat peculiar – onde se adaptaram nas zonas de maior altitude dos Andes – de certa forma os protegeu. Tem participação ativa na vida administrativa e política daquele país onde preservam e falam seu idioma. No Paraguai, o idioma guarani é falado por cerca de 40% da população, mas cada vez menos se vê os indígenas daquele país vivendo como seus ancestrais. No Brasil hoje há uma população indígena de cerca de 700 mil indivíduos, mas apenas um número diminuto (cerca de 2%) vive totalmente isolado, sem qualquer contato com o branco. O que se vê é uma perda gradual da cultura dos índios, absorvidos que são pelos apelos consumistas e formas de expressão da cultura branca. O contínuo avanço da fronteira agrícola tem impactado na fauna e flora dos ambientes selvagens, e os indígenas são cada vez mais confinados em reservas, por vezes migrando para a periferia das cidades, perdendo de vez sua identidade.

Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.