Eles conseguiram chegar somente até a porta, e dali observavam os colegas no velório do Professor Paulo. O mestre que sempre recebera a atenção de todos em suas aulas, mas que agora… Ali deitado e caladão, entregue às moscas, não passava de um defunto.
Consternados, lamentando a partida do homem de quem receberam o aprendizado de ler o mundo, agora esperavam pela aula derradeira, embora não conseguissem sequer entrar na sala do velório. Talvez por estarem tristes demais. Sabe-se lá! Ou mesmo por não acreditarem, que um homem tão bom podia morrer!
Consternados, entenderam que o Professor Paulo não podia nem desejava abandonar seu mister! E buscando um jeito de mantê-lo vivo, decidiram recuperar o conteúdo das suas aulas, preservando seu método de ensino transformador. Somente assim, multiplicariam seu saber.
Alunos do sertão são ávidos pelo saber. Pelo saber aprender. Aprender através da vida que cada um leva consigo, guardada na memória afetiva, no embornal de cada dia, na marmitinha das letras que, avolumadas e compartilhadas, assumem mais sentido nas palavras, quando mastigadas com farinha. Sim! É na hora do almoço, que os alunos do sertão trocam palavras com o arroz ou com a macaxeira colhida no quintal de suas casas.
O Professor Paulo Freire morreu, mas gente assim é semente a ser plantada em terra boa, ou também árida, pois que regada com cuidado, certamente germinará.
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.