Este ano completo 12 anos de atividade como docente na rede municipal de João Pessoa, onde ingressei mediante concurso realizado em dezembro de 2007. Fui um dos últimos a serem chamados e, logo que entrei, em 2012, lembro que disse a mim mesmo que deixaria o cargo se não sentisse paz em continuar. Contei com o apoio de alguns colegas. Destaco o da professora Aurelene, que estava ali há mais de 20 anos e que disse: espere. Significando que não desistisse no primeiro ano.

A trajetória não foi fácil. Muitos altos e baixos, talvez mais baixos do que altos, ou pelo menos baixos mais marcantes do que altos. Segui em frente. Nem posso dizer que segui firme, porque firme eu não estava. Chorei, me frustrei, pensei várias vezes em desistir, cheguei a um ponto de até perder a esperança. Não perdi. Era só mais uma fase ruim. Dito isso, juntei meus cacos um número não sei qual de tantas vezes e cá estou: professor.

Um detalhe importante nesta jornada é que, por mais que eu me decepcionasse com o sistema, nunca me faltou o carinho da grande maioria dos alunos, bem como de alguns colegas professores que moram no meu coração sem pagar aluguel. Também não faltaram alguns motivos para me desanimar e gente querendo puxar o meu tapete ou me jogar num buraco. Nem tudo são flores. Não na Educação.

Outro motivo importante que me segurou na Educação foi o salário. É baixo para um concursado de nível superior? É. Mas quando você coloca em perspectiva o salário e a carga horária do professor da rede municipal de João Pessoa (aqui destaco o caso em particular porque sei que há muitos professores mal remunerados em outros municípios e na rede privada de ensino) em comparação com outras carreiras há uma certa vantagem. Não que isso justifique que professores e outros servidores públicos (enfermeiros, por exemplo) continuem com salários abaixo do merecido.

Não desisti e não desisto da Educação porque é cientificamente comprovada como ferramenta de transformação social. Estudos empíricos, pesquisas de caso, ampla literatura repetem: a boa Educação produz impactos excelentes a curto, médio e longo prazo. No longo prazo é que o contraste se demonstra evidente. Como é bom ver um município se transformar porque uma universidade ou instituto federal passou a funcionar ali! Como é bom ver pessoas de gerações de analfabetos ou semi-analfabetos passarem a ter Educação básica completa e até nível superior!

Os frutos vão além do que se pode mensurar em cifras monetárias ou outro tipo de valor precificável. São frutos sociais de uma comunidade mais atenta à política, ao meio ambiente, à compreensão de seus direitos trabalhistas, à preservação do patrimônio e até mesmo o fruto de ver alguém oriundo da classe trabalhadora ocupar um cargo eletivo de destaque. Eu vejo em Lula o fruto da Educação, seja a adquirida no curso técnico ou na vivência sindical.

A Educação vai além das instituições e também dos profissionais. Ambos passarão. Educar deve ser prioridade sempre. Seja através de políticas públicas de Estado, seja através da iniciativa privada ou de indíviduos que se interessem por ela. Não pretendo desistir de ser professor. Ainda que venha a ocupar um outro cargo ou me desligue da rede municipal de João Pessoa vou seguir professor. E se você, leitor, chegou até aqui e já contribuiu com o processo educacional, quem sabe até seja também docente, deixo minha homenagem e o eco da professora Aurelene: espere. Não desista.

 

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Diário de Vanguarda