Fonte: Bordadeiras da Ilha da Madeira - Pinterest

Os mais lindos bordados da vida são feitos com os fios de delicadeza que respeitam a sabedoria do tempo do coração.  (Ana Jácomo)


Tudo começou numa conversa de duas mulheres: uma bastante prendada, vindo lá das terras do Seridó, e ou
tra que não sabia fazer uma tirinha de crochê, totalmente desajeitada para as prendas manuais. Mas a vontade de aprender e do encontro com outras mulheres foi mais forte, era esse o momento. Uma delas estava aposentada, alias de uma das suas profissões, pois a nossa “Mestra” é uma mulher de mil atributos; bordadeira, enfermeira, atriz e outras coisitas mais. E assim houve o ajuntamento, inicialmente de sete mulheres, até a vinda de uma nova aprendiz de bordadeira.

A arte de bordar, é uma arte pré-histórica, encontrado também nos babilônios e egípcios, até chegar ao Brasil no período colonial, vindo pelos portugueses, especialmente para o nordeste brasileiro.

Quem são as bordadeiras da alegria? assim foram denominadas, por ser algo comum a todas, porque o encontro ao final da tarde das terça-feira virou sinônimo de felicidade, de bem-querer.

Algo com certeza elas têm em comum: desejam um mundo mais justo, em que todos possam viver com dignidade, sem distinção de cor, raça, crença. Um mundo em que todas as crianças tenham direito a escola, a brincar e a um futuro feliz. Um mundo que respeitem os velhos, o outro. Um mundo em que todos possam cuidar da mãe Terra.

Oito mulheres, de diferentes profissões: enfermeira, atriz, dentista, psicóloga, assistente social, arquiteta, agente comunitária de saúde. Oito mulheres que bordam sonhos, memorias afetivas, a vida, aquilo que o faz feliz. Nas suas mãos surgem os bordados, mesmo aquele simples ponto seja para seus olhos o mais belo de todos. Pois vêm do coração o desejo de estar naquele lugar, naquele momento mágico do encontro.

Cada uma traz “o dom de ser capaz de ser feliz”. São mulheres de personalidades fortes, sábias, livres, sensíveis, generosas e acima de tudo éticas. Crê no ser humano. Mulheres que vêm de histórias distintas, mas que viram nesse encontro uma maneira de tecer um pedacinho da felicidade: ‘pois a alma de quem borda não padece sem florir.”

O bordado é tradição, é trazer para o presente a nossa ancestralidade, é pensar nas nossas mães, avós, tias, e em todas outras mulheres que teceram através das suas mãos os mais lindos e suaves tecidos. É trazê-las no nosso imaginário sua história de vida, seu cotidiano, suas paixões, suas lutas pelos seus direitos: direito a voz, ao voto, a liberdade.

E assim essas mulheres vão tecendo a vida, entre linhas, agulhas, cores, tesouras, bastidores, desenhos, escritas. Preparam com esmero e delicadeza os pontos que vão se encontrando e formando frases, casas, flores, sol, montanhas, mar, passarinhos. E no silêncio das mãos vai se traçando os mais suntuosos pontos: ponto atrás, ponto russo, ponto cheio, ponto cruz… E como diz o poeta “e a agulha do real nas mãos da fantasia, fosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-dia”,

No encontro se ri, mas também se chora, se acolhe, se abraça, se acalma. No encontro se bebe chá de cidreira, come bolo, tapioca, pão de queijo, bolachinha. No encontro se chega e se achega. No encontro se conta segredos, se escuta, partilha amores e desamores, o andar da vida.

Enquanto o encontro acontece, as bordadeiras da alegria vão tecendo os dias com esperança e fé no amanhã, fé no que virá”.

E finalizo com trechos de uma linda música de Rubinho do Vale, em que diz:

“Linhas de todas as cores formando lindo matizes

Traços, abraços, amores, laços que lembram raizes

São filhas de Pirapora, artesãs e cantadeiras

Eu peço pra Nossa Senhora cuidar bem das bordadeiras”

 

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Meine Siomara nasceu entre o mar e o sertão, na cidade de Mossoró/RN e passou a sua infância em Areia Branca/RN. Mestre em Enfermagem, Historiadora, Doutoranda pela RENASF, Membro do Coletivo Literário Zila Mamede e do Fórum Vila em Movimento, e mãe de Vitor e Maira.