Desde 2019, venho acompanhando a poesia produzida por mulheres na Paraíba. De forma que, me mantenho atenta as movimentações culturais, ativismos poéticos, criações de eventos e editoras independentes em prol dessa escrita, entre outras atividades promovidas pelas próprias escritoras que estão unidas, em uma parceria lírica, para a realização desse cenário literário, buscando o reconhecimento e a visibilidade dos seus versos e dos versos das suas conterrâneas. Nessa jornada, conheci diversos nomes contemporâneos da poesia paraibana de autoria feminina, especialmente a literatura de Débora Gil Pantaleão, autora que é o foco das minhas pesquisas acadêmicas.
A escritora paraibana Débora Gil Pantaleão possui uma vasta produção literária, publicou livros tanto de poesia como de prosa. Em minhas pesquisas, tenho foco nos seus poemas, li os livros Objeto ar (2018) e Vãoremédio para tanta mágoa (2017) mais vezes do que posso contar e ainda sinto a necessidade de voltar aos versos ocasionalmente. Entretanto, para essa resenha/recomendação, senti uma motivação maior em trazer a obra Uma das coisas (2020), que se tornou o meu romance brasileiro favorito desde a primeira leitura.
A narrativa ainda nos proporciona um passeio pelas cidades do estado, além da rotina em João Pessoa, poispassam por bairros como Bancários, Valentina e Geisel, as personagens também se deslocam explorando municípios como Cabedelo, Mamanguape, Baía da Traição, entre outros. Ademais, locais mais específicos da capital paraibana como a Praça de Cem Réis, a Praça da Paz e a do Coqueiral são pontos tão simbólicos inseridos na obra que pode causar uma sensação de pertencimento ao leitor que passou por esses bairros e também apresenta a região aos leitores de outros estados.
Na obra, Betina reflete sobre temas pertinentes como o racismo, a adoção, a sexualidade, a amizade, a família, a sociedade patriarcal e a condição de ser mulher e de pensar além de si, de forma crítica, sensível e inteligente. Betina nos apresenta histórias que não estão distantes, mas que precisam ser lidas e pensadas, principalmente a das mulheres retratadas, visto que para uma ser, a outra teve que se tornar primeiro. Por fim, não há como ler esse romance sem voracidade, para depois ler de novo, com calma, aprendendo e conhecendo mais as personagens e sendo cativados por elas novamente. Uma das coisas tem a força das mulheres, pois como diria Vovó Lelé “as melhores coisas de estar viva é caminhar na praia e dançar a melhor coisa é eu agora ter coragem” (Pantaleão, 2020, p.95).
Autoria: Isabela Cristina Gomes Ribeiro Da Silva é Licenciada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Federal da Paraíba (2023) e mestranda em Letras pela mesma instituição. Em 2018, participou do grupo de estudos “Análise Crítica do Discurso – Formações ideológicas e de gênero”, tendo atuado, também, nos projetos de extensão “A filologia em sala de aula: o conhecimento pelos manu93+scritos” e “Literatura(s) em debate”. Entre 2019 e 2021, foi bolsista Cnpq no Programa de Iniciação Científica (IC). Atualmente, participa do grupo de pesquisa Laboratório de Estudos de Poesia (LEP) com estudos direcionados à poesia contemporânea de autoria feminina na Paraíba.
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.