A produção de autoria feminina na Paraíba vive um momento de efervescência criativa – não apenas na literatura, mas também nas artes visuais. É notório o fortalecimento de uma movimentação cultural, artística e poética liderada por mulheres que promovem e fazem circular suas próprias obras, ao mesmo tempo contribuem para a visibilidade de outras artistas.

Nesse cenário, destacamos as ações da professora e artista visual Aidyne Martins. Sua atuação vai além do processo criativo individual, ela realiza exposições e oficinas com o propósito de difundir e valorizar a produção artística de mulheres. Um exemplo significativo é a exposição Passar Adiante – Tradição e Contemporaneidades de Olhares Femininos nos Acervos do Museu Casa da Cultura Hermano José e da Pinacoteca da UFPB, que está aberta para visitação desde o dia 20 de março e segue até dia 2 de maio. Com curadoria da própria Aidyne Martins, em parceria com a artista visual Vitória Formigheri, a mostra propõe divulgar e destacar a produção artística de mulheres cujas obras integram o acervo da Universidade Federal da Paraíba, em celebração ao Dia Internacional das Mulheres.

 

A curadoria se dedica a expor, com sensibilidade, a trajetória de artistas que marcaram a história das artes visuais. Um dos destaques é Thereza Carmen – artista visual, gravurista e restauradora – cuja atuação foi determinante para a formação de gerações. Ao lecionar gravura, influenciou diretamente nomes como Marlene Almeida, Hele Bessa e Carmen Trevas, consolidando uma rede de transmissão de saberes e técnicas entre mulheres.

Outro eixo da exposição convida o público a refletir sobre a presença da questão ambiental nessa produção artística. Essa temática ganha forma nas obras de Marlene de Almeida, Marta Penner, Thereza Carmen e Cris Peres, artistas que integram à sua poética visual uma consciência ecológica cada vez mais urgente. Além disso, há a valorização das experimentações em gravura, linguagem apreciada por Hermano José, artista cujo acervo inspirou a curadoria da mostra. Entre as obras reunidas por ele, estão trabalhos de grandes referências como Edith Behring, Anna Bella Geiger e Anna Letycia Quadros, entre outras artistas.

A seleção das obras, conforme Martins e Formigheri, partiu da compreensão de que muitas dessas artistas não apenas construíram carreiras sólidas, mas também abriram caminhos para outras mulheres, seja por meio do ensino, da inspiração ou como referência. Passar Adiante, portanto, é mais do que uma exposição: é um gesto de reconhecimento e continuidade, que celebra as conexões entre gerações e reafirma a potência da arte feita por mulheres.

Por fim, difundir a arte produzida por mulheres é também um gesto político de enfrentamento ao silenciamento histórico que marcou – e ainda marca – o campo artístico. Durante muito tempo, as contribuições de artistas mulheres foram invisibilizadas ou relegadas a espaços marginais nos circuitos institucionais e acadêmicos. Ao reconhecer e promover suas obras, não se trata apenas de reparar ausências, mas de reescrever narrativas, revelando a diversidade de linguagens, temas e perspectivas que essas artistas trazem para a cena cultural. Iniciativas como o Passar Adiante reafirmam o direito das mulheres de ocuparem espaços de criação, memória e legitimidade, descontruindo lógicas patriarcais e ampliando os horizontes da arte contemporânea.

 

 

Isabela Cristina Gomes Ribeiro da Silva é Licenciada em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade Federal da Paraíba (2023) e mestranda em Letras pela mesma instituição. Em 2018, participou do grupo de estudos “Análise Crítica do Discurso – Formações ideológicas e de gênero”, tendo atuado, também, nos projetos de extensão “A filologia em sala de aula: o conhecimento pelos manuscritos” e “Literatura(s) em debate”. Entre 2019 e 2021, foi bolsista CNPQ no Programa de Iniciação Científica (IC). Atualmente, participa do grupo de pesquisa Laboratório de Estudos de Poesia (LEP) com estudos direcionados à poesia contemporânea de autoria feminina na Paraíba.