Ryan Coogler, cineasta que saiu do realismo social de Fruitvale Station, passou pela realeza de Wakanda em Pantera Negra e reacendeu a chama da franquia Rocky com Creed, agora embarca em um novo território cinematográfico: o horror com alma de blues. Seu mais novo trabalho, Sinners (Pecadores), é um thriller sobrenatural ambientado no sul dos Estados Unidos pré-Guerra Civil, onde pactos demoníacos, rivalidades familiares e música se misturam em um coquetel potente — e perigoso.

Inspirado livremente na lenda do bluesman Robert Johnson, que teria vendido sua alma ao diabo num cruzamento em troca de fama, Sinners mergulha em uma narrativa onde a música é mais que arte: é um campo de batalha espiritual. O filme também provoca reflexões políticas e raciais ao explorar a contradição de uma sociedade que ama o blues, mas rejeita seus criadores. Como dispara o personagem vivido por Delroy Lindo: “Os brancos gostam muito de blues; só não gostam das pessoas que o fazem.”

No centro da história está Sammie (estreia forte do cantor de R&B Miles Caton), um jovem prodígio do blues que também carrega o estigma sagrado de ser “filho de um pregador”. Ele é cercado por figuras excêntricas e intensas: seus primos gêmeos Elijah e Elias Smoke (ambos vividos com carisma e ambiguidade por Michael B. Jordan), ex-capangas do submundo de Chicago, agora empresários de um juke joint onde Sammie brilha. À medida que o clube vira um reduto de almas perdidas e acordes encantados, a tensão cresce com a chegada de Mary (Hailee Steinfeld), uma ex-amante com feridas abertas, e Remmick (Jack O’Connell), um cantor country com gostos fúnebres e sotaque irlandês.

O filme caminha entre o drama de época e o terror sobrenatural, numa estrutura que remete a Um Drink no Inferno, de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, mas sem o mesmo tom de ironia. Coogler aposta em uma atmosfera mais densa, deixando o espectador na dúvida sobre quem são os verdadeiros monstros — os vivos ou os mortos.

Ainda que a segunda metade abrace o fantástico com força, há quem prefira a primeira parte mais realista, onde o conflito era humano e a tensão vinha dos personagens, não de criaturas infernais. Mesmo assim, é inegável a ousadia do cineasta em cruzar fronteiras de gênero, entregando um filme que parece saído das páginas de uma graphic novel suja e intensa. O epílogo pós-créditos, aliás, sugere que Sinners pode não ser apenas um delírio isolado — mas o início de algo maior.

Coogler reafirma aqui sua habilidade de reinventar mitologias, seja ela afro-futurista, esportiva ou agora, sobrenatural. E prova que, mesmo lidando com pactos demoníacos, ainda é capaz de fazer um pacto com o público — em troca de arte com alma.

No centro da história está Sammie (estreia forte do cantor de R&B Miles Caton), um jovem prodígio do blues que também carrega o estigma sagrado de ser “filho de um pregador”. Ele é cercado por figuras excêntricas e intensas: seus primos gêmeos Elijah e Elias Smoke (ambos vividos com carisma e ambiguidade por Michael B. Jordan), ex-capangas do submundo de Chicago, agora empresários de um juke joint onde Sammie brilha. À medida que o clube vira um reduto de almas perdidas e acordes encantados, a tensão cresce com a chegada de Mary (Hailee Steinfeld), uma ex-amante com feridas abertas, e Remmick (Jack O’Connell), um cantor country com gostos fúnebres e sotaque irlandês.

O filme caminha entre o drama de época e o terror sobrenatural, numa estrutura que remete a Um Drink no Inferno, de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, mas sem o mesmo tom de ironia. Coogler aposta em uma atmosfera mais densa, deixando o espectador na dúvida sobre quem são os verdadeiros monstros — os vivos ou os mortos.

Ainda que a segunda metade abrace o fantástico com força, há quem prefira a primeira parte mais realista, onde o conflito era humano e a tensão vinha dos personagens, não de criaturas infernais. Mesmo assim, é inegável a ousadia do cineasta em cruzar fronteiras de gênero, entregando um filme que parece saído das páginas de uma graphic novel suja e intensa. O epílogo pós-créditos, aliás, sugere que Sinners pode não ser apenas um delírio isolado — mas o início de algo maior.

Coogler reafirma aqui sua habilidade de reinventar mitologias, seja ela afro-futurista, esportiva ou agora, sobrenatural. E prova que, mesmo lidando com pactos demoníacos, ainda é capaz de fazer um pacto com o público — em troca de arte com alma.