A Paraíba é de junho.
Tudo bem que amamos a Festa das Neves no aniversário da capital, em agosto. Contemplamos a Lagoa do alto da roda-gigante, comemos churros depois da missa da padroeira, testemunhamos a viração da Monga. Mas é da matéria junina que se faz nosso estado.
O vento de junho é quem assopra as bandeirolas nas praças da Alagoa Grande de Jackson do Pandeiro, da Itabaiana de Sivuca, do Catolé de Chico César. Amarelinhas, vermelhas, azuis e verdes, pra lá e pra cá, parando o tempo num farfalhar dançante por toda a terra de Cátia de França e de Elba Ramalho.
É o céu de junho que fica assim, em festa, quando pipocam os fogos na véspera do São João em Campina Grande. A gente olha e vê como fica lindo no alto de Bananeiras, de Patos, de Monteiro, de qualquer canto da Paraíba onde bata o nosso coração.
Nas mãos de junho é que entregamos a colheita do milho para as nossas canjicas, pamonhas e munguzás. É o fogo do mês de junho que faz subir nossos balões, acende as nossas fogueiras, move as nossas pernas na palhoça do forró. É dele, de junho, a zabumba que marca o nosso ritmo, os oito baixos e todos os altos da vida da gente da Paraíba.
A gente aqui é de junho.
Nossa carne parece a do povo de fevereiro: as mesmas cores, a mesma alegria, o mesmo gosto de enfeitar a casa. A mesma espera de um ano inteiro. A mesma força para aguentar as lutas, os baques, as dores, porque quando ele chega, junho, é tempo só de brincar. Tempo de dançar quadrilha. Tempo de trançar os cabelos. Tempo de fazer a feira cantando.
O amor à nossa terra tem som de sanfona.
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Ana Lia Almeida: é paraibucana: de Recife, onde nasceu, e de João Pessoa, onde mora. Integra o Clube do Conto da Paraíba e o movimento Mulherio das Letras. Seu primeiro livro, “Curtinhas da Quarentena” (Ed. Venas Abiertas: 2021), retrata o isolamento social da pandemia em pequenas crônicas. “Travessia” (Ed. Venas Abiertas: 2021), por sua vez, é uma novela com o tema da maternidade. Participou de algumas antologias, entre elas “Porque Hoje é Sábado” (Caos e Letras: 2022), do Clube do Conto. Mantém um blog, “Salto de Palavras”, no qual publica alguns de seus escritos (www.saltodepalavras.blogspot.com).
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.