Pode até ser uma simples redução, no filme, e um exagero interpretativo meu, mas vai ficar como um mistério sobre o vício. O filme ‘Oppenheimer’ trata do poder do vício ou o vício do poder.
Até Cristo, a vida foi sempre posta como uma ‘eterna batalha’, a ponto de, ao não se bastar em si mesma, transcender-se ou repetir-se – em quase todos os credos.
Eu poderia sintetizar o filme numa frase simplória do clichê: ‘É uma bomba!’ A extensão do filme, entretanto, pretende muito mais: Esforça-se, evangelicamente, numa aula sobre a paz.
Um cientista disse certa vez que os maiores desafios da Física oscilam entre o menor e o maior da matéria (o infinito do íntimo e o do universal). O filme retorna com esse dilema.
Considero um revelado paradoxo a popularidade de alguns físicos e as suas descobertas. Tanto que, hoje dizer da relatividade ‘é, substancialmente, uma forma’ de rejeitar o absoluto. A verdade não é mais uma questão do tipo: ‘Magister dixit!’.
No início do filme, o voar de um chapéu estabelece um enigma sobre um diálogo entre Oppenheimer, o protagonista biografado, e Einstein. A partir daí, a matéria desfaz-se em palavras. O filme vai intensificando o debate em todas as suas dimensões: íntima, pessoal, familiar, social, científica e política.
Uma mulher se despe (a cena é reveladora) e exibe o que a humanidade vai se mostrar: A vida como um eterno conflito nada mais é que uma concordância com a morte. E a vida não é isso. Na verdade, viver é amar. A vida é eterna e só é eterna, porque é amor.
Na sala onde vi o filme (no MagShopping, na Paraíba), eu senti a radiação de um medo estupendo, a ponto de o silêncio absoluto quebrar-se em toda a platéia, quando a contagem regressiva chegou em 10…9…8… Nem a mordida da pipoca ou a respiração eram audíveis. É que o final todos sabiam. Afinal, o final todos sabemos, desde o paraíso.
Ao compreender a tecnologia, os militares dispensam os cientistas e manipulam o poder com mais um ingrediente, outra incógnita, usada pelos políticos em palavras e gestos. O poder é um vício: um ópio.
Oppie continuou o mesmo bebê chorão, autenticado pelo presidente Truman no epílogo, mas descobriu no íntimo da matéria que a vida não é um desafio, uma batalha, um conflito. A escolha é tão simples e envolve tanto todas as criaturas que aceitá-la parece monótono, mas Jean e Kitty sabiam que não. Na vida, o céu se diferencia do inferno, porque no céu todo instante é novo (ser bom ou ruim é uma questão de aceitação). Você pode se imaginar no controle de tudo, …
…, entretanto, às vezes, o chapéu voa.
Irapuan Sobral
Poeta. Compositor. Criatura de Deus. A igualdade fraterna universal lhe basta.