Crédito: Valeska Asfora

A Humanidade parece não cumprir à risca o “livre-arbítrio” que tanto a Bíblia e algumas pessoas entendem como regra.

A bem da verdade, vivemos regrados por uma infinidade de conceitos, normas, leis, diretrizes, preceitos e preconceitos que determinam e regulam a nossa conduta perante a sociedade.

Nesse caso não há como exercitar o “livre-arbítrio” sem estarmos atrelados às regras que nos foram impostas.

Desde cedo começamos a ser educados através de regras, e é por elas que aos poucos é definido o comportamento de cada pessoa. São conceitos herdados dos nossos ancestrais e que a cada geração são modificados de acordo com a evolução do planeta.

Desde criança somos orientados a cumprir regras, estabelecendo normas de convívio, tais como: “se perguntar, responda”, “se lhe desejarem bom dia, retribua”, “se receber emprestado, devolva”, “se prometeu, cumpra”, “se recebeu um favor, agradeça”, “se comprou, pague”, “se já vai, se despeça”, – entre tantas outras que, de certa forma, padroniza e disciplina a Humanidade.

A partir do surgimento do Capitalismo como sistema econômico, foram oficializadas três regras de vida: “sonhar, acreditar e realizar”. Há porém uma regra universal chamada “respeito”, sendo a mais importante entre todas fazendo com que se mantenha a interação entre os membros das sociedades.

Em toda família há uma regra estabelecida, geralmente influenciada pela educação recebida dos pais, assim como há regras na vizinhança, na rua, no bairro, cidade, estado, nação e continente.

As regras, na verdade, variam de acordo com a cultura de cada região, tornando-se uma expressão de ordem para a boa convivência. Não há nada que não seja regido por regras, e por trás de cada uma delas, há sempre um poder maior orientando, manipulando ou dominando a sociedade.

Em todo e qualquer projeto são estabelecidas regras. As leis são determinadas por regras. Em cada Nação há uma Constituição regida por leis e regras.

Há regras de idiomas, regras na matemática, regras de cálculo, física, química, regras de estradas, regras marítimas e de espaço aéreo, regras administrativas, regras na saúde, educação, esporte, religião, política, regras em todas as profissões e até no submundo do crime há regras que mesmo não oficializadas são praticadas por organizações mafiosas, tráfico de drogas, milícias e por quem pratica as mais variadas transações ilícitas e fora da lei.

Regras existem em todas as partes: em casa, na sala de aula, parques, shoppings, bares, restaurantes, teatros, cinemas, casas de recursos, shows, eventos, associações, ongs, sindicatos, fundações, instituições, e em toda empresa pública ou privada.

Há regras até mesmo em jogos infantis e nas mais inocentes brincadeiras de criança. Não há como fugir das regras, no entanto, há no imaginário invisível de cada ser um espaço onde as regras não transitam. Neste mundo onde até o impossível poderá existir, habitam as mais diferentes fantasias, e os melhores sonhos, sem que haja leis, normas e regras.

Sim, podemos imaginar o que quisermos, da forma que bem convier e transformar qualquer imaginação em uma fantasiosa verdade, mesmo sabendo da impossibilidade, na maioria das vezes de concretizar a sua existência.

Nem sempre o que imaginamos se torna real, porém tudo que a mente humana imagina e planeja, até mesmo aquilo que um dia foi ficção científica, acaba virando realidade.

Em meu imaginário eu posso construir uma cidade, me transformar em um elemento da natureza, me transportar ou voar para onde bem quiser. No imaginário não há ponto final e o infinito é desprovido de limites e regras.

Já fui muitas vezes criticado com base em regras, e em algumas vezes chamado de louco por estar conectado ao meu jardim, conversar com as plantas, beijar as flores ou abraçar uma árvore agradecendo sua vida. Já fui julgado por responder a um bem-te-vi, interagir com os pássaros e dialogar com os animais como se isso fosse fugir das regras. Já fui contestado e fortemente reprimido por ter levado um morador de rua para almoçar comigo em um restaurante, sendo hostilizado pelo proprietário por estar infringindo suas regras.

Já fui punido ao socorrer um senhor que foi baleado em um assalto e pelo fato de prestar atendimento levando-o ao hospital, acabei sendo detido, interrogado, e só liberado com a chegada de seus familiares. Mesmo o senhor ferido, em estado de plena consciência, tentar convencer os policiais que se tratava de um gesto humano – nada fez quebrar a regra e por conta disso passei quase quatro horas “de castigo” no hospital até a chegada da família da vítima, que vinha do interior.

Parece que nesse mundo “conceituado” a natureza se tornou invisível, o amor perecível e a solidariedade cada vez mais difícil de ser praticada.

As regras, estando certas ou erradas, são obrigações que devem ser cumpridas ao mesmo tempo que põem limites, enquadram, restringem e interferem na criatividade e no pensamento.

Eu vivo sonhando acordado com um mundo melhor, imagino mil coisas que para mim seriam verdade, mas não cabe na realidade que vivemos. Em meu imaginário eu posso ser o que quiser, porque nele não há regras. Em meu imaginário habita o imprevisível, tornando o livre-arbítrio possível a uma trégua. Por não viver em atrito, sem qualquer culpa ou conflito, a paz sereniza o infinito e minha alma sossega. Em meu imaginário a liberdade navega em pensamento irrestrito, porque em seu livre-arbítrio a regra é não se ter regra.