
Hoje eu quero falar de amor, de amizade, de solidariedade e de generosidade. Como diz nosso querido Mujica, que nos deixou essa semana: “Ainda que pareça estranho, sempre cultivei as coisas com paixão, mas estou desprovido de ódio. O ódio é como o amor: cego; mas o amor é, em última instância, criador; o ódio destrói.”
Portanto, não quero me ater ao ódio, a injustiça que estou passando nesses últimos dias, de um poder que vêm além da nossa vontade ou do nosso entendimento como profissional e como ser humano. Quero falar de algo que me faz acreditar na humanidade e na força do bem!
A exemplo de amigos que adquiri na minha trajetória profissional e pessoal, de toda essa caminhada pelo Sistema Único de Saúde como enfermeira, principalmente na Estratégia de Saúde da Família. Quero falar de uma parte do meu coração que ficou em Felipe Camarão após 16 anos na Equipe 7; do bailar do Pastoril do Peixe Boi-Encantado com idosas resgatando suas memórias, do Auto de Felipe Camarão que fez do nascimento de Cristo um verdadeiro sentido do Natal. Das Meninas que Vi Crescer que se sentiram as mais belas de todas ao completar 15 anos, ao ser clicada para uma Exposição fotográfica que percorreu o mundo. Dos agentes de saúde que amam e querem transformar o seu lugar. E isso é amor! Amor pelo seu território. Amor pelo seu torrão. Do Fórum de Felipe Camarão que trazem as lutas por melhores dias para seu povo, e trago as palavras do inesquecível Papa Francisco, quando ele diz “Ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida”!
Quero falar também desses 11 anos na Vila de Ponta Negra, onde venho mais uma vez acreditando e persistindo num SUS que tanto sonho, no caminhar pelas ruas e ruelas conhecendo cada homem, cada mulher, idoso, criança, numa construção cotidiana do fazer acontecer no Saúde da Família. Rememorando desde o primeiro momento que cheguei na Vila, da minha atual equipe 131, inúmeras lembranças do Saúde na Praia, da Tenda Vermelha, do Cuca Legal, do Correio Afetivo, do Fórum Vila em Movimento, do Seminário do Envelhecimento, no Quem tem fome tem pressa…
Quero falar de novos amigos que adquiri num outro espaço e fez surgir como ondas de amor, em todos os lugares, em todos os momentos, nas alegrias e nos momentos mais difíceis…e como diz o poeta “Amigo é feito casa que se faz aos poucos e com paciência pra durar pra sempre. “
Quero falar da minha emoção ao ouvir pessoas discorrer sobre sua minha trajetória de vida, numa mesa de negociação em que cada palavra era importante para minha defesa. Lágrimas teimavam em cair na minha face. Percebendo com toda a certeza que estou do lado do bem, dos bons, dos justos.
Quero falar da minha gratidão, do carinho, do respeito, da admiração que tenho recebido nesses dois dias das mais lindas pessoas, dos amigos, quero falar dessa onda de amor.
Escrito por

Meine Siomara Alcantara, enfermeira e historiadora, funcionária pública municipal, militante do SUS,doutoranda em Saúde da Família pela RENASF, membro do Coletivo literário Zila Mamede, do Fórum Vila em Movimento e da Bodega Solidária. Filha de Pedro e Ocimar, mãe de Vitor e Maira, namorada de Richard.

MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.