“O Romance do Pavão Misterioso” de autoria do paraibano José Camelo de Melo Resende completou cem anos. Na verdade, há controvérsias. Não se sabe com exatidão se a obra foi composta em 1922, 1923 ou 1924. Pouco importa. É um clássico da cultura brasileira. Uma relíquia da Paraíba que ganhou o mundo. Ponto.
Mesmo que alguns não queiram, o Cordel é uma grande tradição da literatura brasileira. Sua vasta popularidade é incontestável. A sua apropriação por iletrados revela a magia da oralidade. José Camelo, um dos seus ícones, foi um carpinteiro e xilógrafo brejeiro nascido em Pilõezinhos. Entrou para a história compondo versos com precisão métrica e rimas estonteantes. Tudo num português impecável.
José Camelo é apontado como um pioneiro da ficção científica na Literatura de Cordel. Sua obra já foi encenada pelo dramaturgo e diretor Theotônio de Paiva há duas décadas. Ficou sete anos circulando pelo Brasil. Inspirou canções e virou longa metragem nas mãos do cineasta Silvio Toledo, em “O Resgate do Pavão Misterioso”.
Com direção, dramaturgia e composição musical de Nana Rodrigues, a história foi livremente adaptada e está sendo recontada. Mesmo em breve temporada, já coleciona premiações, aplausos e risos. Fez sua estreia no final do ano passado no Teatro Geraldo Alverga, em Guarabira.
O sucesso foi imediato. Em abril recebeu a premiação de Melhor Elenco e obteve nove indicações no 6º Festival Internacional de Teatro de Guaranésia-MG. No último dia 19/05 foi o único espetáculo representante da região Norte e Nordeste no 36ª Mostra de Teatro de Sertãozinho-SP.
Em São Paulo a trupe paraibana esteve entre os 20 classificados das 261 inscrições encaminhadas de todo o país. Levou o público ao delírio, retornou para Guarabira com o prêmio de Melhor Espetáculo e demonstrou fôlego para ir muito mais longe.
Em 2024 a Cia. Torre de Papel completará 30 anos. Está afiadíssima. Reúne um elenco bárbaro. Traz no sangue a força do movimento artístico do Brejo. Conta com atores e atrizes como Marcelo Felix, Vera Grangeiro, Xande Viajante, Ivaney Justino, Francisca Vaz, Jamilly Ferreira e Rauan Vieira. A direção musical é de Xande Viajante.
Envolve uma extensa cadeia de criadores. Cenário e figurino assinado por Marcílio Vital. Iluminação de Dida Cavalcanti, maquiagem e fotografia de Tham Toscano. A preparação vocal foi trabalhada por Amanda Almeida e o design gráfico tem a assinatura de Bianca Costa. Destacamos no cenário e nos adereços, a marca registrada de Adriano Dias. Um dos grandes nomes da arte Naif nordestina.
A história adaptada por Nana fala do amor de um jovem turco por uma donzela grega. A atenção do público é conduzida pelo ritmo alucinante do texto. Creusa era mantida em cativeiro pelo pai que somente permitia que fosse vista uma vez por ano por poucas horas. O jovem turco encantou-se a partir de uma fotografia e foi em busca do seu grande amor. Para acessar os aposentos da moça, encomendou um Pavão mecânico e se aventurou pelos ares em busca da amada.
O sucesso da trupe guarabirense não me surpreende. Tive o privilégio de assistir e me encantar com o espetáculo semanas atrás no Teatro Santa Catarina, em Cabedelo. Não podemos esquecer jamais que as melhores encenações não acontecem necessariamente nas capitais e nos grandes centros urbanos.
Lau Siqueira
Gaúcho de Jaguarão, mora em João Pessoa desde os anos 1980. Escritor, poeta e cronista, tem diversos livros publicados, participou de antologias e coletâneas. Ex-secretário Estadual de Cultura da Paraíba.