A poesia brasileira sempre se movimentou melhor fora dos eixos. Mesmo quando o eixo era europeu. A história do barroco que o diga. Não por acaso é brasileiro o maior poeta barroco de Língua Portuguesa, Gregório de Matos Guerra. Seria esse o prumo na linha do tempo da poesia brasileira? Claro, com muitas variáveis e incontáveis suores.

O fato é que de lá para cá um inevitável barroquismo foi tecendo esse fio de seda. Sempre recompondo as frinchas e se perpetuando enquanto correia de transmissão. Por fora de todos os eixos também correram os movimentos que pavimentaram a pista por onde a história da nossa poesia ainda galopa.

Alguns desses movimentos se descolaram dos grandes centros urbanos. Especialmente a partir das últimas décadas do século XX. Pequenos focos de produção literária se projetaram na imprecisão geral dos anos 80. Romperam as fronteiras do municipalismo sobrevivendo longe do olho gordo do mercado. “O barroco é o gene da América Latina em permanente transmutação(…)”, observou Affonso Ávila.

O ABC paulista é uma das regiões que sustenta essa pisada. Há anos abriga um cenário de permanente rebuliço criando verdadeiros nichos de fervura criativa. “Algures”, livro do poeta Carlos André, nasceu neste cenário. O lançamento se deu pela editora Clóe que realiza também uma importante ação audiovisual de registro da poesia contemporânea.

O livro nos mostra o que pode um poeta ainda jovem, com uma proposta de linguagem poética praticamente definida. Se é que é possível para um poeta, em qualquer tempo, definir esse rio de águas turbulentas que é a linguagem poética. O fato é que neste seu segundo livro o poeta já não se esconde. Transita livremente pela concisão e assume a poesia com a qual se veste.

A busca cabralina é o cartão de visitas deste livro do Carlos André. Cada poema é um átomo demandando provocações. E a poesia está logo ali, na esquina. Nos becos de Diadema, no diagrama das ruas e na pressa de quem passou e nem viu as flores no quintal. Poemas com forte sotaque urbano. Coisa de quem abandonou o ninho porque aprendeu a voar.