Por muitos anos, mulheres tiveram espaços roubados, ofuscados por preconceitos. Isso se reflete consequentemente na literatura, mas seguimos na busca por habitar lugares antes e ainda negados de certa maneira. Assim, pela necessidade de ocupação, inspirada no concurso nacional Carolina Maria de Jesus, surgiu a ideia de um concurso literário voltado para autoras paraibanas. E foi com muita alegria que conseguimos a aprovação de tal projeto inédito na Lei Paulo Gustavo do Governo do Estado da Paraíba.
A homenageada é Luzia Teresa, paraibana natural de Guarabira, considerada a maior contadora de histórias da América Latina. A contrapartida do projeto será uma antologia intitulada “Um rio na ponta da língua”, prevendo 25 poemas e 25 textos em prosa a serem selecionados por juradas também escritoras do estado.
Uma coletânea de textos partindo de um concurso em homenagem a Luzia Teresa, mulher tão importante, porém ainda desconhecida por muitos, também contará alguma história. Isso pois cada poema, linha de prosa a compor a obra abarcará um corpo, uma mulher, uma memória.
“Um rio na ponta da língua” é quando a palavra toma rumo pela fala, navegando em terras distintas. Luzia Teresa teve esse poder porque as histórias correm quando são contadas, ganhando vida na correnteza do tempo.
Sobre as inscrições, as escritoras interessadas (sejam inéditas ou não) podem consultar o edital no seguinte endereço:
https://concursoluzisateresa.my.canva.site/literatura
Inscrição – de 18 de fevereiro a 18 de março de 2024 para realizar a inscrição de uma única obra.
Além disso, podem acompanhar o Instagram @concursoluziateresa, onde serão postadas todas as atualizações relacionadas ao concurso e qualquer dúvida deve ser encaminhada para o e-mail presente no referido edital.
Enquanto coordenadora do projeto, professora, escritora (e mulher), não poderia também deixar de contar algo. Segue, portanto, o meu poema (inédito) que deu luz ao título da antologia:
memória
(Jennifer Trajano)
todas as tardes
durante o pôr do sol
como uma senhora
em sua cadeira de balanço
contemplo o rio que banha
o quintal onde morei
velejo no passado
como se fitasse uma varanda
e vejo os pássaros passarem
rumo ao sul
me vendo em suas asas
de costas para o norte
também vejo uma canoa
e sigo o seu remado
olhando o sol descendo o rio
é como se
encontrasse alguma coisa
e eu me sinto tal qual o reflexo
que senta sob o rio
descendo ao abismo das águas
como se ele também descansasse
numa cadeira de balanço
e feito o pássaro curioso que passa
às vezes penso que passo como o sol
outras que desço como o reflexo
mas é como se quase toda a luz
se perdesse no caminho
desse meu rio que às vezes esqueço
mas que tem ponto de encontro
na ponta da língua
MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.