
Neste mês de abril, a Paraíba se tornou palco do 9° Encontro Norte-Nordeste dos Comitês e Comissões de Memória, Verdade e Justiça. O evento, realizado no Cine Aruanda, na Universidade Federal da Paraíba, reuniu familiares de desaparecidos políticos, pesquisadores, ativistas e representantes de diversos estados comprometidos com o resgate da verdade, da justiça e a defesa incondicional da democracia. A programação envolveu depoimentos de familiares, rodas de conversa, grupos de trabalho, exposições, apresentações artísticas e homenagens.
Mais do que um encontro, foi um ato de resistência coletiva, em que vozes silenciadas pelo autoritarismo ganharam espaço, rosto e dignidade. A organização ficou sob a liderança da professora Lúcia Guerra, pelo Comitê Paraibano, e de Edval Nunes da Silva (Cajá) por Pernambuco. Eles mobilizaram pessoas e instituições em torno de um compromisso comum: não deixar cair no esquecimento as atrocidades cometidas durante a ditadura militar no Brasil, lutar por justiça e pela consolidação de nossa democracia.
Essa luta não se encerra com relatórios. Ela continua em cada comissão, em cada escola, em cada lugar onde a memória for preservada. Porque muitos ainda buscam os restos de seus entes queridos. Muitos ainda esperam reparação. E todos nós temos o dever moral de garantir que as novas gerações conheçam essa história, por mais dura que ela seja.
Em um tempo em que se discute, com gravidade, a possibilidade de anistiar quem atentou contra a democracia brasileira, como vimos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, o Encontro em João Pessoa foi um lembrete da importância da memória como ferramenta de resistência. O passado não pode ser enterrado sem verdade, nem superado sem justiça. Ainda há histórias não contadas, vozes silenciadas, feridas abertas.
Saí de lá convencida de que é de extrema necessidade a reafirmação e manutenção dessas Comissões, não apenas como investigações históricas, mas como estruturas permanentes de vigilância, educação e prevenção. Elas são necessárias para que o Estado brasileiro reconheça seus crimes, repare suas vítimas e, sobretudo, não os repita.
A Paraíba, ao sediar esse encontro, reafirma seu papel como terra de memória e de luta. Aqui, onde tantas vozes pela liberdade ecoaram — como as de João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves e, ainda hoje, a de Elizabeth Teixeira que se soma à força de tantos e tantas ativistas dos direitos humanos e pela democracia.
Manter viva essa história, ainda que dolorosa, é um ato de amor à democracia, à dignidade humana e à esperança de um país verdadeiramente justo.
É preciso estar atento. É preciso seguir denunciando, formando e educando para o “Nunca Mais”.

Zezé Béchade
Zezé Béchade é jornalista, especialista em Gestão e Políticas Públicas, bacharela em Direito e mestra em Ciências Jurídicas-Direitos Humanos.