Ao ser convidado para assinar uma coluna no Diário de Vanguarda, portal que já nasceu com merecido sucesso, aceitei de cara o carinhoso convite formulado pela minha querida amiga Edileide Vilaça. Por nossa longa amizade e por tantos projetos realizados em parceria, jamais deixaria de aceitar esse desafio, o que muito me honra.

Acontece que por estar em um momento com muitas atividades, tive que dar uma pausa na coluna por alguns dias. Reinicio agora com o entusiasmo e alegria em fazer parte deste primoroso cast. Pretendo em meus artigos, que serão publicados quinzenalmente, compartilhar os conteúdos armazenados no hipocampo, sejam memórias ou fatos atuais, que acredito ser pertinente dividir com o público leitor.

Aos leitores e amigos deixo meu abraço agradecendo por nossa literata cumplicidade. A todos uma boa leitura!

Liberdade tem asas

Quando criança costumava sonhar acordado. Sem ter noção de espaço e tempo construía no imaginário aquilo que fantasiava tornando em real possibilidade os sonhos que de minha mente saiam. Me via dentro deles com a convicção que mais cedo ou mais tarde haveriam de existir.

Nessa época Campina Grande, a cidade onde morava e que foi berço da minha primeira infância, e parte de minha adolescência, vivia a última década do Ciclo do Algodão, o que fez da cidade um centro comercial algodoeiro, chegando a ser o segundo maior exportador do produto no mundo.

Apesar de ser um município em pleno desenvolvimento, não existia praticamente nenhum atrativo na cidade para uma criança da minha idade a não ser frequentar a piscina do Clube dos Caçadores e depois as “peladas” do mini campo de futebol construído pelo Clube Campestre.

Por conta disso, nossas brincadeiras eram limitadas e ao mesmo tempo criativas pela necessidade de criarmos opções e até confeccionarmos os nossos próprio brinquedos.

Nunca fui de subir em árvores, brincadeira típica da época, porém o céu me encantava. Sempre gostei do céu! Adorava subir ao telhado, e ali passava horas observando o desenho das nuvens, ou o silêncio das estrelas quando chegava a noite.

Porém essa rotina foi quebrada quando de repente aconteceu o primeiro voo de uma aeronave na cidade e a novidade acabou virando uma grande atração.

Todos os domingos famílias inteiras se dirigiam ao aeroporto, na época ainda chamado “campo de aviação” para ver o pouso e a decolagem do bimotor “One Eleven” trazendo e levando os primeiros passageiros da Serra da Borborema.

Apaixonado por aquele avião dominical, é claro que incorporei aos meus sonhos o desejo de um dia ser piloto.

Me transportava para os céus e me via criando asas no inconsciente mágico infantil onde tudo é fácil realizar. O impossível para mim não existia. Voar seria uma questão de tempo, embora meus pensamentos já dessem voos rasantes e serenos na imensidão do meu universo puro e inocente.

A mente de uma criança consegue ter essa força capaz de decolar qualquer ideia e, como não há regras e conceitos ainda formados, o “tudo pode” ganha corpo e forma no imaginário, transformando as mais diferentes fantasias em realidades levando a outra dimensão.

Depois de um tempo comecei a entender a firmeza do chão através de valores que eram a mim colocados.

A ficção que habitava minha mente aos poucos foi desmoronando e apedrejando a minha alma em bombardeios diários que me levaram a um pouso forçado da existência.

Entendi, mais tarde, a diferença entre um sonho e uma realidade. Compreendi também que o céu não era tão perto e que o infinito é impossível de ser alcançado por não existir um ponto final.

Os sonhos interrompidos no entanto me fizeram acordar para uma realidade ainda mais mágica, norteando de forma significativa o meu comportamento.

Aprendi que para se ter uma vida plena e sem amarras, é necessário praticar voos naquilo que se imagina, sem medo de arriscar o infinito horizonte que o universo permite.

Aprendi na verdade que liberdade tem asas.