
Desculpem a tradução. Sem saber latim, recorri ao Google Translate. Na onda do Habemus, que gera alegria até em ateu, peguei carona pra falar de uma conquista que também pode mudar os rumos do mundo: a parceria real entre mulheres.
Tenho tido a sorte de estar cercada por mulheres maravilhosas. De origens, idades, experiências e histórias diferentes. E isso, olha, é um presente. As relações também são diversas. Algumas eu nunca vi pessoalmente, mas são uma base de apoio tão sólida que mais parecem vizinhas de porta. Outras estão perto, no contato quase diário. Um passeio pelo parque, uma ajuda pra pintar a casa ou um café na beira da praia. Tem ainda aquelas das batalhas por saúde e estética (porque não tô aqui pra mentir). A gente sua a camisa enquanto tagarela a vida.
Há também as amigas literárias. As fisgadas pela leitura, pela escrita, por esse emocionamento gostoso que dá ao ler alguém nas entrelinhas. Tem as amigas da fofoca (quem nunca?), as “ovários pra toda obra”, as que se abrirem a boca a gente tá muito lascada. As de farra, as da infância, as da choradeira, as noveleiras, as que indicam séries e promoções relâmpago. As amigas de trabalho, as que dão trabalho e aquelas pra quem a gente não dá sossego.
Tem as dos editais, dos projetos, da correria atrás de cliente e todo aquele sortilégio necessário pra pagar os boletos e ainda adquirir mais uns. Tem as das viagens, dos sonhos, do colo, do abraço. E tem, claro, as da dura realidade.
Porque nessa vida que é maratona, nada melhor do que mulheres que correm com mulheres. Que puxam pela mão, pelo braço, pelo cabelo, pelo esporro ou por uma frase-feita comovente. As que te impulsionam. Compartilham teus posts, teus vídeos, teus textos, teus sonhos. As que se inscrevem nas tuas oficinas. As que ministram com você. As que torcem. As que arrumam torcida. As que se alegram ao te ver brilhar.
E há ainda aquelas que você nem conhece, mas tão ali, fazendo o bem à mana sem olhar a quem.
Habemus muita estrada pra asfaltar. Muito feminismo pra ensinar. Muitas lutas pra travar. Mas estamos cada vez mais unidas. Mais conscientes de que, ou a gente se dá as mãos, ou vão continuar nos dividindo pra conquistar. Aprisionar. Sufocar. Matar.
Sei lá. Acho que andei me emocionando esses dias com tanta mulher incrível me fazendo se sentir incrível também.
TEXTO DE AUTORIA DE

Nadezhda Bezerra é escritora, roteirista, produtora de contéudo para internet. Membro do Clube do Conto da Paraía, Coletivo Escreviventes e Mulherio das Letras.

MULHERIO DAS LETRAS
Coletivo literário feminista que reúne escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à cadeia criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.