O Sertão é um lugar de muitas magias. Terra de umacultura diversa e pulsante onde as paisagens mais bonitas, são as pessoas. O povo sertanejo carrega na pele uma força que estrutura a identidade brasileira. Não por acaso a representação cultural que abriu e encerrou as Olimpíadas de 2016, apresentou ao mundo a mestiçagem de um país continental onde o Nordeste destacou-se por voar mais alto e mais longe.

Fazer arte nos rincões deste país tropical abençoado por Deus, nunca foi fácil. A mídia só mira nos grandes centros. Todavia, é onde o horizonte se alarga que germinaa arte do Brasil real. Há uma imensa pluralidade de expressões artísticas e culturais espalhadas pelo país. No Nordeste, tudo germina na aridez estrutural da tal “Floresta Branca”. A arte brota como o verde na Caatinga aos primeiros pingos de chuva.

Não por acaso o Grupo de Teatro Oficina, de Sousa-Pb, completou quarenta e três anos. Uma longevidade rara sustentada por quem dedicou e dedica a vida aos palcos. Mesmo longe dos holofotes midiáticos. A arte sertaneja resiste, não por almejar a consagração merecida. Mas por ser  um respiradouro coletivo. Sucesso de verdade é fazer história e construir caminhos. Isso uma trupe como o Oficina sempre soube fazer e faz.

Ano passado a FUNESC – Fundação Espaço Cultural, realizou uma mostra das artes cênicas do Sertão. O Grupo Oficina apresentou o espetáculo “Torturas de um coração”. Um texto complexo de Ariano Suassuna. Complexidade essa que nasce na busca do significado de uma arte inequivocamente sertaneja. Sem dúvidas o espetáculo foi representado por artistas talhados no universo armorial de Ariano.

Não é “teatro amador”, mas teatro de quem ama o que faz. Dos que compreendem a realidade onde vivem e desejamtransformá-la. As artes cênicas estão vinculadas a tradições milenares e resistem até mesmo nas guerras. Ofilme “A última borboleta”, premiado no Festival de Cannes, nos conta bem essa história. Fala de um artistaque encenou a realidade e denunciou ao mundo o horror que os nazistas queriam disfarçar.

O Grupo Oficina se supera sempre. Seja no palco, ou naatitude diante da história do teatro paraibano. O mestre, militante e artista João Balula finalmente teve sua luta reconhecida. Uma beleza de sala de espetáculos localizada no Alto Capanema, em Sousa, ostenta o seu nome. Homenagem merecida para quem palmilhou os quatro cantos do estado enquanto presidente da Federação Paraibana de Teatro Amador.

Desde 1990 o Grupo Teatro Oficina é um exemplo de resistência e criatividade. Para eles a região é não apenas o ponto de partida, mas a chegada. São artistas sertanejos priorizando o Sertão. Numa região de tamanha diversidade cultural, o Oficina construiu não somente um teatro. Também soube mostrar que cada tijolo feito no barro do tempo, é alinhado no prumo que sustenta a argamassa da história.

Luizinho Cacau e o Oficina transformaram o Teatro João Balula numa das mais simbólicas casas de espetáculos do Sertão. Um lugar que não apenas produz espetáculos e forma atores e atrizes. Também é uma porta aberta para as produções que chegam na região. Quem faz o Oficina sabe que constrói a cena artística sem esperar os milagres de quem possui os olhos apagados para o que não é espelho.

O Grupo parece um daqueles pássaros que cortam o céu do Sertão e repentinamente mergulham nalguma descoberta. Para eles, o alimento é a precisão. Como quem se alimenta da aventura que é viver na contramão e constrói o futuro sem ver o tempo passar. É calango que aprendeu a voar. Aliás, como dizia Paulo Freire, “num país como o Brasil, manter a esperança viva é, em si, um ato revolucionário.”