A vida é feita de momentos, que a todo tempo se transformam em saudade.
Tudo é rápido, veloz demais. Ontem era a infância de dona inocência, de brincadeiras, de correr no meio da chuva parando em biqueiras para banhar-se em meio a trovões e relâmpagos. Era tempo sem maldade, sem medo de nada. Era tempo de pedir a benção aos avós, de contar estrelas no céu, esperando uma verruga nascer. Era tempo de bola de gude, de jogar peão, de correr atrás de uma “canarinho” com o resto da molecada.
Era tempo adolescente, se imaginando gente, voz mudando e se concebendo o tal, o bacana, o paquerador, o dono do seu próprio nariz, sem ser nada disso.
Era tempo adulto, de responsabilidades, de edificação de família, sem esquecer seus pais e avós.
O vento vai nos levando pelos céus da vida. No decorrer de cada época situações que vão sendo depositadas e guardadas na gaveta da saudade. Mas chega um tempo na vida, o da maturidade, em que você começa a entender que é preciso exercitar a saudade na presença.
Com os cabelos brancos, passos e ideias lentas, aqueles que outrora lhes deram a vida, hoje precisam de todo e qualquer instante com você. Incompreendidos, muitas vezes se sentem sós, abandonados, sem utilidade e, por isso, cada minuto com eles, mostra-se infinito, pois é o vivenciar acolhimento, carinho e apoio, “num despedir aos poucos, quando o outro, ainda, não foi embora” (Taiza Marcolino).
Essa saudade na presença do crepúsculo é preciso ser vivida com a alma e com a razão. Ou seja, com a intensidade que o amor permite, e, de outro lado, com compreensão de que, quando o outro partir, a saudade tem que se transformar em planície de paz.
Viva a saudade, que com seu olhar divino faz com com que as coisas boas fiquem estáticas no tempo!
(Fiz olhando para meus pais)
ONALDO QUEIROGA
Onaldo Queiroga
Juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa e ocupa o cargo de juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais. Gonzagólogo - conhecer e colecionador da obra de Luiz Gonzaga.