A vida é feita de momentos, que a todo tempo se transformam em saudade.

Tudo é rápido, veloz demais. Ontem era a infância de dona inocência, de brincadeiras, de correr no meio da chuva parando em biqueiras para banhar-se em meio a trovões e relâmpagos. Era tempo sem maldade, sem medo de nada. Era tempo de pedir a benção aos avós, de contar estrelas no céu, esperando uma verruga nascer. Era tempo de bola de gude, de jogar peão, de correr atrás de uma “canarinho” com o resto da molecada.

Era tempo adolescente, se imaginando gente, voz mudando e se concebendo o tal, o bacana, o paquerador, o dono do seu próprio nariz, sem ser nada disso.

Era tempo adulto, de responsabilidades, de edificação de família, sem esquecer seus pais e avós.

O vento vai nos levando pelos céus da vida. No decorrer de cada época situações que vão sendo depositadas e guardadas na gaveta da saudade. Mas chega um tempo na vida, o da maturidade, em que você começa a entender que é preciso exercitar a saudade na presença.

Com os cabelos brancos, passos e ideias lentas, aqueles que outrora lhes deram a vida, hoje precisam de todo e qualquer instante com você. Incompreendidos, muitas vezes se sentem sós, abandonados, sem utilidade e, por isso, cada minuto com eles, mostra-se infinito, pois é o vivenciar acolhimento, carinho e apoio, “num despedir aos poucos, quando o outro, ainda, não foi embora” (Taiza Marcolino).

Essa saudade na presença do crepúsculo é preciso ser vivida com a alma e com a razão. Ou seja, com a intensidade que o amor permite, e, de outro lado, com compreensão de que, quando o outro partir, a saudade tem que se transformar em planície de paz.

Viva a saudade, que com seu olhar divino faz com com que as coisas boas fiquem estáticas no tempo!

 

(Fiz olhando para meus pais)

ONALDO QUEIROGA