Está cada vez mais explícito que a Era da Cibernética chegou para mudar completamente o comportamento da Humanidade. A meu ver, para pior. Vivemos a Era da “circunscrição” do pensamento, onde a palavra deixou de ser escrita e pronunciada, para ser dominada por uma inteligência robotizada capaz de responder as maiores dúvidas, atropelando ao mesmo tempo, a capacidade intelectual que o cérebro tem em trabalhar os seus neurônios.

Quando criança, vivia sempre ligado, movido pela curiosidade sobre as novas descobertas. Isso me deixava completamente “ON” perante o Universo, a natureza, as pessoas e a própria vida, provocando um exercício constante na busca do desconhecido.

No Colégio, a cada dia um novo aprendizado nos transportava para um mundo mágico, fazendo aguçar na alma o orgulho de ter alcançado algum determinado conhecimento. Nas salas de aula se exercitava caligrafia, redações e sabatinas orais interagindo com os colegas.

Existia um cheiro diferente nas pessoas, misturado a livros e cadernos, que ao chegar no período de provas era substituído pelo aroma do álcool proveniente das folhas mimeografadas distribuídas pelos educadores. O quadro-negro era a tela do nosso “computador”, e enquanto o giz “digitava” o texto, o apagador “deletava” o conteúdo da lição, às vezes tão rápido que não dava tempo de copiar a matéria.

Apesar de existir vários dicionários, as enciclopédias vendidas por livreiros de porta em porta chegaram como novidade para se ter acesso a todo tipo de informação. As mais famosas eram a “Barsa” e a “Delta-Larousse”- os verdadeiros “Google’s” da época. Eram tão bem elaboradas que sempre ao terminar uma consulta, acabava folheando por curiosidade outras páginas e adquirindo consequentemente novos aprendizados.

O mundo aos poucos evoluía e naquela época já se falava em computador. Talvez tenha sido por isso que o uso da “máquina de escrever” tenha se popularizado e o curso de datilografia passou a ser requisito para quem quisesse arranjar um emprego, sendo incorporado ao currículo das pessoas e acabando definitivamente com a profissão do “datilógrafo”.

O primeiro computador do Norte-Nordeste e o terceiro a ser instalado no Brasil chegou em Campina Grande, na UFPB, no ano de 1968.  A novidade tomou conta da cidade, e é claro que meu pai nos levou para conhecer. Era um monte de equipamentos, cheios de botões, luzes e válvulas, acoplado a algumas telas que ocupavam praticamente todo o espaço de uma grande sala. Eu não sabia bem para que servia, mas associei de cara às fotografias que saiam na revista “O Cruzeiro” sobre a preparação do Apolo 11 que levaria no ano seguinte o homem a lua.

A partir da metade do século XX, as invenções industriais traziam quase que diariamente uma novidade, porém o avanço tecnológico começou gradativamente a mudar os hábitos da Humanidade, mesmo que inconscientemente. A televisão foi uma delas. Em 1984, a chegada do fax causou uma revolução. Imagine você receber um documento enviado do outro lado do mundo e chegar imediatamente até você através de uma máquina. Outro dia conversando com o meu amigo Joaquim Soares, contemporâneo e colega de classe no Colégio Pio XII, ele me contava uma história engraçada sobre um vigia, que no ofício noturno de sua profissão, foi surpreendido na madrugada com a chegada de um fax na empresa em que trabalhava. Achando ser um mal-assombro fugiu com medo e nunca mais voltou.

Na década de 80, a internet mesmo trabalhando lentamente, já era uma realidade, porém foi a partir de 1990 que o computador ganhou força. Seu tamanho reduzido, novas placas inseridas, programas de software que possibilitaram aumento de memória, começando a ser incorporado por grandes e médias empresas e aos lares de pessoas com melhor poder aquisitivo.

Paralelamente surgiram os primeiros celulares e não demorou muito para que toda essa tecnologia fosse aperfeiçoada e depois popularizada. Aos poucos o analógico foi sendo substituído pelo digital. Surgia então em 1991 a primeira “homepage”. Em 1992 o Pager Bite avisava através de sinais sonoros que alguém queria se comunicar – era bastante usado por médicos e por quem trabalhava com situações de emergência. Em 1999, já se permitia trocar mensagens através do SMS anunciando que uma nova era estava por vir. Até aí, tudo bem, mas logo após a virada do milênio e já na primeira década do novo século, o mundo se conectou numa velocidade assustadora mudando radicalmente o modo de vida de todos os seres do planeta.

O Google chegou ao Brasil já no ano 2000. Entre 2001 e 2002 foram inseridos vários aplicativos até que chegou por aqui, em 2003, o Myspace, engolido no ano seguinte pelo Orkut permitindo as primeiras salas  de bate-papo. Não demorou muito, ainda em 2004, foi criado o Facebook, ganhando popularidade em 2005. Em 2006 foi instalado o Twitter, em 2007 o YouTube, em 2009 o WhatsApp e em 2010 o Instagram. A partir daí o mundo interligou celulares, já configurados como smartphones, e computadores à internet, unificando serviços de empresas, bancos, universidades e entre pessoas. Passamos a depender de um sistema que a qualquer sinal de falha ou defeito somos paralisados. Se você for, por exemplo, a um banco e o sistema estiver fora do ar, será impossível fazer qualquer tipo de operação. Outro dia, o  WhatsApp ficou desconectado por 24 horas, provocando um prejuízo incalculável em todo planeta, deixando as pessoas perplexas sem saber o que fazer.

As redes sociais conseguiram dominar a Humanidade de tal forma que praticamente ninguém consegue viver sem estar conectado a elas. Há, porém um fator ainda mais agravante e que precisa ser refletido.

Todas essas redes foram criadas com a intenção de também controlar os passos e os desejos de seus usuários. Viramos um produto do capitalismo, bancado por milhares de empresas que pagam trilhões e mais trilhões para nos induzir e nos monitorar.

Eles sabem exatamente onde estamos, do que gostamos, o filme que assistimos, as páginas que curtimos, com quem nos conectamos e o tempo que passamos conectados. Não é à toa que quando curtimos algum produto na rede, de imediato somos notificados e começamos a receber ofertas daquele produto ou similares. Perdemos completamente a nossa privacidade.

Pior ainda é o efeito que o mundo virtual vem causando nas pessoas. Afastou de cara o diálogo familiar e o contato presencial entre amigos e os mais próximos. Ao mergulhar nessa bolha conectada ao mundo, foi criado um universo paralelo onde o egoísmo e a individualidade prevalecem perante a sociável boa conversa. Aos poucos estamos perdendo a luz, a essência e a pureza da alma, permitindo ser cada vez mais controlados e viciados pela ilusão. Os conceitos foram mudados e a vida passou a ser valorizada pela quantidade de likes, curtidas e números de seguidores. Há na virtualidade uma disputa permanente, onde a vaidade e a ostentação, se tornaram armas maquiadoras da felicidade. Até mesmo a própria fotografia é embelezada por filtros mostrando uma aparência irreal. Por trás de cada tela “vive” um avatar que da mesma forma que pode enviar mensagens de paz, amor e harmonia, pode julgar, denegrir, provocar, desrespeitar, comentar o que bem quiser e até inventar um mal capaz de ferir a dignidade ou mesmo destruir a imagem de alguma pessoa. Paciência e compreensão, também parece não existir no mundo virtual. Ninguém aceita uma opinião que seja divergente da sua, ao mesmo tempo, em que são imediatistas. Uma postagem marcada, ou uma mensagem enviada que demore ser visualizada ou respondida, é transformada em mágoa ou incompreensão.

Há também um desejo em muitas dessas pessoas de serem reconhecidas ou viralizadas por algumas de suas postagens. Por conta disso viraram seus próprios “paparazzos” banalizando fotos, vulgarizando o corpo, expondo brigas, traições, ou criando algum tipo de besteirol.

É triste, mas é verdade. As redes sociais constroem a cada dia pessoas sem nenhuma afinidade, cada mais vez mais plugadas a um mundo solitário e desconectado com o seu próprio ser. Não é à toa que os casos de depressão e suicídios, principalmente entre jovens e adolescentes triplicaram no mundo nos últimos dez anos. É necessário entender que esse efeito nocivo causado na Humanidade não é gatilho que age individualmente. O mundo inteiro hoje é ciberneticamente influenciado e acabamos virando reféns dessa violenta evolução. O que chegou para facilitar a vida da Humanidade acabou virando um mal cruel e devastador.

Grupos extremistas, pelas redes planejam e praticam atentados, jogos violentos trazem o assassino para a vida real, fake news, perfis falsos em vários países influenciaram eleições, ameaçando a democracia.

Vivemos hoje submetidos a ataques cibernéticos e pelos hackers que além de espalharem vírus nas redes, clonam dados, roubam senhas, invadem sistemas, sites, servidores, bancos de dados de grandes empresas e governos, informações pessoais, arquivos confidenciais, e ainda expõem a intimidade de famosos com o objetivo de tirar algum proveito financeiro.

Os golpes a cada dia se multiplicam desviando perfis, rastreando páginas, montagem de fotos obscenas, ameaças e extorsões e até clonagem de nossa própria voz.

Vivemos na incerteza de um futuro que cada vez mais se distancia da solidariedade, espiritualidade e respeito ao semelhante.

Diante desta insegurança real e visível, os cientistas criadores e detentores desses aplicativos, todos por unanimidade, estão preocupados tentando encontrar alguma forma que possa disciplinar as redes sociais. A situação é tão grave que nem a seus filhos permitem a “navegação” em suas próprias invenções.

O pior, no entanto está por vir. A Inteligência Artificial que aos poucos vem sendo aperfeiçoada, segundo a opinião de vários cientistas é potencialmente “mais perigosa que bombas atômicas”. Geoffrey Hinton, o poderoso chefão da Cibernética e pai da Inteligência Artificial, disse recentemente estar arrependido em ter criado essa tecnologia. Por conta disso, pediu demissão do Google e  vem fazendo uma peregrinação na intenção de alertar ao mundo os sérios danos que ela vai causar. Segundo o próprio, talvez esteja aí o começo do fim.

É nessas horas que me dá saudades dos filmes de 007 onde tudo era ficção científica. Por falta de limites perdemos o controle e gradativamente a tecnologia vai roubando a nossa alma e transformando as mentes em algoritmos manipulados pelo sistema.

Ainda assim estamos resistindo, mas se por acaso, formos definitivamente robotizados ao ponto de arrancarem nosso cérebro, o perigo será bem maior… e o mundo vai ter que morrer para nascer um melhor. Fica o alerta!