Início dos anos 90, aquele jovem morava em João Pessoa e, como uma pessoa sempre ligada em jornal televisivo, ao acabar um noticiário já mudava de canal à procura de mais notícias. Numa dessas, um rosto passou a lhe chamar a atenção na TV Tambaú, na época, afiliada da extinta Rede Manchete. Nada de extraordinário até aí. Para muitos era só mais um rosto novo de uma apresentadora, como tantas que vem e vão. Mas não para o romântico rapaz. A figura daquela mulher bonita de voz suave tinha vindo pra ficar. “Pra ficar”? Como assim? Explica-se: Para sair da condição de fã e admirador ele tinha que dar um passo, “aparecer” e buscar uma aproximação – o que procurou fazer com bastante cuidado e que levaria algum tempo.  Lembrou-se ele do dia em que lhe mandou flores, entregues já no estúdio da TV Cabo Branco em João Pessoa, última emissora onde aquela apresentadora passara a trabalhar antes de mudar pra Recife.

A receptividade ao presente inesperado, vindo não se sabe de onde nem de quem, foi muito boa pois, minutos depois, em sua casa, para sua surpresa, aquele admirador recebia dela uma ligação de agradecimento pelas flores. Pronto! A barreira estaria quebrada!? Não, não foi bem assim; uma amizade não nasce da noite para o dia e aquela paciente e perseverante tentativa de aproximação teria de continuar.  Não se tratava de obsessão, mas uma ideia ou vontade, paralela ao cotidiano daquele jovem: trabalho, namorada, família, estudo, etc. – sem muito propósito.

Depois de algum tempo o rapaz deu por falta de sua repórter preferida. Foi quando soube que ela havia mudado para a Rede Globo Nordeste, em Recife.  Mas o que é um endereço diferente em se tratando de sonhos? O nosso amigo logo deu um jeito e, em duas ocasiões, enviou-lhe cartas e caixinhas de bombons finos para seu novo local de trabalho. O contato foi rareando e o jovem meio que desistindo. Porém, mais tarde, por motivos profissionais, ele também passaria a residir em Recife.

Houve, digamos, um recesso, afinal aquele cara estava surgindo do nada. Ela deveria ter suas reservas em relação a ele e isso havia de ser respeitado. Mas, mais uma vez na mesma cidade, era natural que ele voltasse a procurá-la. Logo estaria ele de novo rastreando os canais de TV e a lista telefônica à sua procura. Até que um dia ela surge. Agora na TV Tribuna. Entraram mais uma vez em contato, mais flores e trocas de e-mail. Pois é, àquela altura a tecnologia naturalmente daria uma forcinha: era chegado o tempo dos e-mails e a troca de correspondência passou a ser mais frequente. Ela, agora, – o confessaria mais tarde – pôde “conhece-lo” melhor através do que lhe era escrito. Para cada três e-mails que ele enviava apenas um era respondido (depois ela lhe diria por quê). Quando finalmente aquele jovem passou a ser correspondido, criou coragem e a convidou para almoçar. Nesse mesmo dia, um Domingo de junho de 2002, após o almoço, ela o convidou para ir na sua casa onde lhe apresentou seu filho, sua irmã, a secretária e o seu cãozinho “tufão”. Agora sim! Era o começo surpreendente de um agradável relacionamento. Uma experiência inusitada e enriquecedora para ambos.

Durante esse período houve muita cumplicidade, confidências e afinidades entre ambos. À exceção dos seus respectivos colegas de trabalho, eles eram um para o outro a imagem mais frequente. Ele passou a ser frequentador assíduo de sua casa e, sempre que podia, ela retribuía a visita. Para ele, aquela mulher era uma das pessoas mais espirituosas e divertidas que já havia conhecido. Fato que, associado ao passado comum em João Pessoa, os aproximava ainda mais.

A relação como namorados não durou muito e veio um período amistoso e ameno, com troca mínima de correspondência. Embora mais afastados e depois de meses sem contato, ele lhe telefonou no seu aniversário de 2005. Dias depois ela retorna a ligação, mas dessa vez para dizer que estava indo embora. Isso mesmo. Ligou para se despedir. Por motivos absolutamente pessoais, sua querida repórter lhe disse que estava deixando o Recife e que não poderia fazê-lo sem antes falar com aquele que já o considerava um dos seus melhores amigos. Marcaram para se encontrar, ocasião em que ele se dispôs para o que ela precisasse. Seria dessa forma que o destino os reservaria ainda alguns momentos daquilo que era, digamos, o encerramento de uma história, dez anos depois, dessas do tipo “se contar ninguém acredita”.

Numa Quarta-Feira de Agosto de 2005 ele foi levá-la até o aeroporto onde ela o confessou, naquele momento, estar sentindo o peso da despedida. Estava deixando a cidade que tanto ama e que, como repórter, conhece tão bem. O fã sonhador, que um dia a teve nos braços, como namorado, como amigo, seria o mesmo com quem aquela radiante mulher dividiria suas últimas horas no Recife. Ao som da música “Ponta do Seixas”, de Cátia de França tocando na FM (uma incrível coincidência), entre abraços e lágrimas, se despediram, jurando ela fazer valer o verso dessa mesma música quando diz: “um dia vou voltar”!