Adriana Rodrigues, Diretora do Hospital Santa Filomena, e Ana Paula Barbosa, Secretária de Saúde de Monteiro.

O Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM/MS Nº 389, de 13 de março de 2014, definiu os critérios para a organização da linha de cuidado da Pessoa com Doença Renal Crônica (DRC). Uma linha de cuidado, busca definir o trajeto do paciente de determinada doença, considerando desde ações de promoção da saúde (ações, individuais e coletivas, que visam evitar a exposição das pessoas ao risco de adoecimento), à prevenção, tratamento e reabilitação.

Doenças Renais Crônicas são, segundo o Ministério da Saúde, “um termo geral para alterações heterogêneas que afetam tanto a estrutura quanto a função renal, com múltiplas causas e múltiplos fatores de risco”. Como se trata de doença de evolução, muitas vezes, assintomática, o diagnóstico tardio torna-se muito comum, o que faz do procedimento de hemodiálise o principal tratamento imediato. Além disso, as DRCs são fortemente impactadas por algumas das chamadas Doenças Crônicas não Transmissíveis (DNCTs): hipertensão, diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares, além do tabagismo. Portanto, muito suscetíveis a situações ligadas aos ditos hábitos saudáveis: alimentação saudável, não sedentarismo, não fumar, não ingerir bebida alcóolica em excesso, ou seja, em linhas gerais, situações em que quase todo mundo sabe o que não deve fazer, mas, que, na prática, quase todo mundo o faz. Estima-se que, entre 10 e 12% da população adulta seja afetada por doença renal crônica-DRC, no Brasil.

Na Paraíba, como de resto, em todo o país, o Sistema Único de Saúde – SUS é o grande mantenedor dos procedimentos de hemodiálise. No entanto, o acesso ainda é deficitário e muitas pessoas têm grande dificuldade de iniciar seu tratamento, o que se agravou com o aumento de pacientes nos últimos anos. Nesse cenário, é fundamental que a rede de atenção às pessoas com DRC cresça. Parte desse crescimento testemunhamos no município de Monteiro-PB, que, em agosto de 2023, por meio de parceria estabelecida entre as três esferas de gestão do SUS, Secretaria Municipal de Saúde de Monteiro, Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba e Ministério da Saúde do Brasil, deve disponibilizar à população da 5ª Região de Saúde da Paraíba, nada menos que 10 máquinas de hemodiálise, que já estão na sede do Hospital Regional Santa Filomena, sob gestão e gerência da Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba. De fato, não é uma operação simples disponibilizar serviços de tal magnitude, pois, além dos equipamentos que realizam propriamente a hemodiálise, ainda é necessária a instalação de uma espécie de estação de tratamento de água de hemodiálise osmose reversa.

A implantação do serviço de hemodiálise é uma luta antiga capitaneada pela gestão municipal de Monteiro e demais municípios da região, que, de há muito, demonstram a necessidade da sua população em ter o acesso ao tratamento mais próximo de suas residências. Até o momento, as pessoas precisam se deslocar para Campina Grande ou mesmo João Pessoa para realizar procedimentos de hemodiálise, em alguns casos, duas ou três vezes por semana. É inegável o desgaste físico e mental de pacientes, muitas vezes debilitados, e de seus acompanhantes, ao enfrentarem tal deslocamento por tempo indeterminado. Diante disso, serão beneficiados, diretamente, os municípios de Amparo, Camalaú, Caraúbas, Congo, Coxixola, Gurjão, Monteiro, Ouro Velho, Prata, São João do Cariri, São João do Tigre, São José dos Cordeiros, São Sebastião do Umbuzeiro, Serra Branca, Sumé e Zabelé, com população total de 114.323 habitantes, o que, de resto, também beneficiará, sobretudo, Campina Grande e João Pessoa, que terão reduzida a pressão para o atendimento dos pacientes oriundos desses municípios, assim como de outras regiões de saúde que, futuramente, possam incorporar seus pacientes ao sistema de Monteiro, de forma mais eficaz, considerando a localização geográfica de seus municípios.

Esse tipo de investimento significa mais vida e mais dignidade para a Paraíba e é fundamental que possamos reconhecer, incentivar e exigir que mais recursos públicos sejam aplicados dessa forma. Esperamos que o ocorrido em Monteiro-PB sirva, pois, de exemplo para todos e todas que fazem o Sistema Único de Saúde em nosso país. Parabéns aos envolvidos nessa obra fundamental!