O povoado que daria origem à cidade de Campina Grande foi fundado em 1697 e seu surgimento está ligado à passagem de tropeiros e ao encontro de pecuaristas para comercialização de seus animais, num cruzamento de caminhos entre a Zona da Mata, Agreste e Cariri paraibanos. Sua emancipação política só viria 167 anos depois, quando a Freguesia, depois Vila Nova da Rainha, já era maior do que outras cidades já emancipadas na Paraíba. Nos meus relatos por onde andei e morei pelo Brasil afora, Campina Grande é um dos lugares que mais cito. Nessas ocasiões, sempre exalto sua vocação para o comércio, seu polo universitário e tecnológico, o clima ameno e seu porte de capital, mesmo estando situada no interior de um dos estados mais pobres da Federação.
A localização geográfica daquilo que abrigaria a futura cidade, a meio caminho entre sertão e litoral, favorecia encontros de tropeiros, pecuaristas e agricultores que comercializavam seus produtos, dois séculos atrás. Dessas feiras e encontros, no seu início, espontâneos, surgiu o povoado, que atraía um número cada vez maior de pessoas para ali se estabelecer. Assim nasceu a Vila que permaneceria nessa condição por mais de 1 século e meio. Em 11 de outubro de 1864, Campina Grande foi a sétima cidade a se emancipar na Paraíba, então, já com quase 20 mil habitantes; depois de João Pessoa, Areia, Mamanguape, Pombal, Sousa e Cajazeiras.
Durante várias décadas do século XX, Campina Grande ostentou o título de maior, mais populosa e mais próspera cidade da Paraíba. O algodão que, embora não fosse cultivado no seu município, foi o maior vetor do seu desenvolvimento na primeira metade do século passado. O produto viabilizou a instalação na cidade de algumas indústrias têxteis e usinas de beneficiamento dessa fibra. A cadeia produtiva fazia surgir outros ramos de negócios e a cidade foi se desenvolvendo. A pujança econômica da “Rainha da Borborema” demandava por mais investimentos, privados e governamentais, em diversas áreas. A partir da década de 70 a cidade se consolida como polo de ensino superior e passa a atrair um grande número de universitários dos estados vizinhos, principalmente Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Seu custo de vida relativamente baixo era outro fator que conspirava a favor. Os estudantes se profissionalizavam e muitos acabavam se fixando na cidade. No auge do ciclo do algodão, pequenas colônias de estrangeiros e funcionários de multinacionais também se estabeleceram na cidade. A partir dos anos 80, com declínio da participação da agricultura no conjunto da economia paraibana, principalmente o cultivo do algodão e do sisal, a economia campinense se retrai e Campina Grande perde o posto de maior cidade paraibana. Mas o setor de serviços já estava consolidado o suficiente para que uma crise noutro setor comprometesse o seu desenvolvimento. Quando cito Campina Grande, um dos meus argumentos favoritos é afirmar que dentre as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, não há nenhuma outra cidade do interior, com mesmo porte, infraestrutura, oferta de serviços e qualidade de vida que a cidade paraibana oferece aos seus habitantes. Mesmo cidades mais ricas do Centro-Oeste, com o dobro da renda “per capita”, a exemplo de Anápolis e Rio Verde (GO), Rondonópolis (MT) e Dourados (MS), não apresentam a mesma oferta de serviços, principalmente nas áreas de educação e saúde, verificada em Campina Grande.
Mas nem tudo eram flores na Rainha da Borborema. Assim como em toda a Paraíba, há uma forte segregação em sua estratificação socioespacial. As disparidades sociais são enormes e em parte explicam porque durante muito tempo Campina figurou entre as cidades nordestinas mais violentas, com índices de mais de 40 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes/ano. Índices estes, felizmente, reduzidos para menos da metade nos últimos anos. O seu clima mais ameno também nunca lhe garantiu segurança hídrica e o abastecimento d’água sempre foi um problema. Todo o seu município está situado sobre a rocha cristalina da Borborema, sem uma rede hidrográfica à altura de sua necessidade. Seu abastecimento d`água sempre dependeu das águas salobras do Açude Epitácio Pessoa. Foi somente após a conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco no eixo leste que Campina Grande pode garantir sua estabilidade hídrica e virar essa página. Com mais de 400 mil habitantes e apenas 800 mm de pluviosidade anual, a “capital do Compartimento da Borborema” conta agora com as águas do Velho Chico para continuar crescendo e manter seu status de cidade mais desenvolvida de todo o interior nordestino. Parabéns aos campinenses pelos 159 anos de emancipação política de sua cidade celebrada neste 11 de outubro.
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.