Registro fotográfico feito em 11/09/2023, pelo meu olhar através da janela da Associação da Comunidade Negra Nossa Senhora Aparecida, do Sítio Grilo. Comunidade Quilombola, em Riachão do Bacamarte – PB, que estou tendo o privilégio e a honra de conhecer.

Penso que olhar por uma janela é como se olhar no espelho. Às vezes de olhos fechados (Sim!) outras de olhos bem abertos. Na maioria das vezes descalça e abrindo bem os braços, como se quisesse inspirar e expirar todo o ar, com o frescor de quem acabou de sair do banho, recebendo e absorvendo o Prana. Em muitas outras, de tênis, jeans e camiseta, fragrância cítrica aromática, cabelos soltos ao vento. Noutras ainda, de salto alto, vestido longo, perfume marcante, maquiagem e penteado.

É como ver possibilidades, ouvir os silêncios, apreciar as formas, filtrar os sons, sentir as texturas.

É liberdade ou é prisão? É independência ou solidão? É cansaço ou descanso? É pausa ou pressa?

Numa mistura de estranhamento e contentamento, imagino quem estará lá fora (ou aqui dentro), ao longe ou mesmo perto, até ao lado. Que vida terá, como será, compartilha com alguém? O que gosta de fazer? Que dores atravessa? Que sonhos viveu, vive? Estuda – ou precisou abandonar a escola? Tem um trabalho, um emprego, sua arte, uma fonte de renda?

Que prazeres experimenta e descobre? Quantas perdas, quantos lutos vividos? O que dá prazer? O que faz chorar? O que lhe afeta? O que lhe afaga a alma? Será que ainda brinca, ri, sonha, se embriaga, gargalha, escreve, canta, dança, desenha andorinhas, barquinhos, coqueiros, montanhas? Ainda faz desenhos com as nuvens? Gosta de um balanço e de tirar um cochilo na rede depois do almoço? Você já comeu hoje?

Do que se alimenta?

O que tem de guardado apenas para si?

Como tem sentido os efeitos do tempo? Como percebe os seus sinais?

São dias a mais ou dias a menos?

Contempla o nascer do sol, se entrega ao entardecer? Benze-se com água doce e salgada? Brilha com as estrelas (Lembrei-me que na infância não podíamos contá-las porque amanheceríamos com verrugas, risos). Sente o gosto da chuva, o cheiro da terra molhada, ouve o barulho nas folhas? Abre-se para as maravilhas do Universo?

Prepara o alimento, a cama, o altar, os chás, os banhos, as ervas? Entrega-se a abraços sinceros? Agradece pelo que chega e pelo que vai?

Inspira-se na história, cultura, força, sensibilidade, resistência dos que vieram antes? Honra-os?

Reconhece as raízes com os povos originários, quilombolas, ribeirinhos, ciganos?  Reconhece que a terra é solo sagrado? Conecta-se com a Mãe Natureza? Preserva, cuida, cultiva? Ah, Mãe Terra, quem dera seus filhos e filhas lhe olhassem com amor, zelo, respeito, honra!

Olhar em volta, olhar para dentro é perceber como são tantas, grandiosas e pequeninas diferenças. Cada um, cada uma de nós com seu pequeno-grande universo dentro de si, suas histórias, famílias, buscas, faltas, desejos, vida.

Olhar-se no espelho e olhar por uma janela, o que tem de singular, o que tem em comum?

Olhar para dentro e olhar para fora pode parecer tão distinto e distante… Será?

O que você vê?