Quero trazer neste artigo, elementos da Cidade que me acolheu há 40 anos e aqui fiz morada e projetos de vida. Nada melhor do que fazer o registro e reconhecimento de quem cantou essa cidade, com seus encantos e rimas, como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Rosil Cavalcante, Biliu de Campina, Marinez e tantos outros e outras.
Ao se falar de Campina Grande, nos remete logo aos títulos que ela tem desde a sua nobreza, chamada de Rainha da Borborema, a Liverpool Brasileira, Capital do Trabalho, Cidade Universitária, polo industrial e polo tecnológico. Uma cidade que pulsa, porque nasceu do trabalho, tornando-se um polo aglutinador, segundo maior orçamento do Estado, depois da capital João Pessoa. Cidade que se coloca no porte das cidades médias brasileiras com mais de 400 mil habitantes.
Numa dimensão econômica, a cidade teve picos impulsionadores através de ciclos econômicos e como traz a música cantada por Luiz Gonzaga, Tropeiros da Borborema, que no nosso entender deveria ser o hino oficial da cidade. O primeiro ciclo foi o do algodão sendo a cidade receptora da produção algodoeira, vinda do sertão, que daqui escoava para Recife e/ou Liverpool, na Inglaterra, através da SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro), e que para cá, trouxe o trem, em 1907, dando um pico desenvolvimentista e crescimento à cidade. Após os anos dourados, do ouro branco, temos o pico desenvolvimentista do açúcar, quem não se lembra da rua Joao Suassuna, do beco do Açúcar, ciclo esse impulsando a economia da cidade e o desenvolvimento industrial. A cidade já comportou o primeiro polo industrial do estado, quando se falava em arma ou revolver calibre 38 era em Campina Grande que se encontrava. Do polo Calçadista em Zé Pinheiro, o bairro operário de Campina Grande, onde até hoje está instalado a casa do trabalhador, onde sedia o sindicato dos trabalhadores das indústrias e também nas imediações, observamos o majestoso edifício da FIEP – Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, sem esquecer do bairro do São José, com a praça do trabalho e etc.
Mas não podermos viver apenas da memória dos valiosos tempos dos ciclos econômicos, marcada ainda pela sua construção arquitetônica da ART DECOR, diga-se de passagem, pouco valorizada como patrimônio arquitetônico e aos poucos sendo destruída e substituída por espigões de concreto, caixões da construção civil que nada de arte e beleza se observa (arquitetos que me desculpem), ameaçando inclusive o clima serrano com o seu impacto ambiental.
Mas a cidade pulsa com um grande serviço educacional formando profissionais para todas as áreas seja para a demanda local, regional, nacional e até internacional – como se esquecer da era áurea da Escola Técnica Redentorista (hoje desativada).
É um polo de saúde com atendimento ao público do estado e de outros estados, apesar de políticas municipais erradas como o programa SAÚDE DE VERDADE. Uma cidade que pulsa cultura, como o Festival de Inverno, o festival de JAZZ, e o festival de música Internacional, o Maior São Joao do Mundo, que apesar de vir a cada ano perdendo sua regionalidade, tornando-se um festival e concorrência com outras cidade da região, as festas juninas ainda atraem multidões para a cidade. A cidade que cresceu e se reconfigurou, a relação capital/trabalho também se reconfigurou, e é nesse novo desenho da cidade, que trago essa canção de Jackson do Pandeiro “Alô Campina Grande” com o trecho, “ALÔ ALÔ MINHA CAMPINA GRANDE QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ NÃO TE CONHECE MAIS”.
A Feira Central não é mais como em outrora, porque cada bairro tem sua feira e não se precisa ir mais à feira central para às compras. O comércio no centro da cidade perde sua importância porque cada bairro tem seu próprio comércio, as áreas marcadas pelos ciclos econômicos, são verdadeiros “cemitérios” abandonados. Mas a cidade pulsa, e vem se reconfigurando com a sua força do trabalho e de sobrevivência, de uma nova economia micro empreendedora de fundo de quintal e familiar. A cidade cresce na ocupação do seu espaço urbano e cada vez sendo mais urbana e menos rural. Exigindo dos seus gestores um novo olhar para essa cidade que sofre com o aumento da população em situação de rua, com aumento da violência urbana, pela diminuição da oferta do mercado formal para atender e ocupar a população, principalmente as juventudes. Pela existência de muitos prédios ociosos e abandonados, a exemplo do antigo prédio do cinema capitólio, marcas dos anos dourados, que tem desafiado as gestões e os poderes públicos e ameaçado os transeuntes com a possibilidade do seu desabamento, apesar de sua localização estratégica da cidade.
Campina Grande continua sendo atrativa para se viver, porém carece urgentemente de um estudo mais apurado, de um planejamento estratégico atualizado, pois o seu Plano Diretor está superado e desatualizado há mais de 10 anos. Dando a entender que não existe planejamento na gestão da cidade. E não será endividando a cidade com a tomada de empréstimo para fazer obras faraônicas que teremos um novo pool desenvolvimentista para a cidade, pelo contrário, podemos ter em breve uma cidade endividada e sacrificando suas receitas para pagar os vultuosos empréstimos feitos pelos atuais gestores.
É verdade que a cidade sobrevive fruto do trabalho do seu povo, mas carece urgentemente de um novo ressurgimento econômico que possa continuar garantindo que a cidade continue sendo tão pujante como idealizado por Vergniaud Wanderley, Edivaldo do Ó, Wiliams Arruda, Severino Cabral, ex-prefeitos da cidade. Por isso entendemos que CAMPINA GRANDE precisa ser pensada para o futuro próximo, para uma Campina que queremos, com inclusão social e que absorva seus leais forasteiros, de raças diversas e pluralidade nas condições e naturezas humanas que somos. Com essa nova engenharia do trabalho e das relações trabalhistas na produção de conhecimento e de riquezas de forma que possa combater as desigualdades e com uma cidade do direito de se viver bem e acolhedora como sempre foi a vocação de Campina Grande.
Raimundo Augusto de Oliveira (Cajá)
Sociólogo, Analista Político.