
Na semana em que completei 61 ciclos em torno do sol, saí do cinema depois de assistir “A Substância”, estrelado por Demi Moore, com a confirmação de algo que há tempos tenho refletido e, acredito que muitas mulheres também, além de sentir na pele, claro: nós, mulheres que já passamos dos 50, precisamos continuar batalhando com determinação para ocupar os espaços ou realizarmos os planos que almejamos, por dignidade e respeito nesse mundo que, cada vez mais, vem ficando menos humanizado. O filme, indicado ao Oscar, escancara as pressões impostas a nós, especialmente por uma sociedade que, ainda hoje, nos mede pelo frescor da juventude e pela aparência idealizada.
A narrativa de “A Substância” reflete um dilema que atravessa gerações de mulheres. Em um mundo onde a imagem feminina continua sendo tratada como mercadoria, as pressões vêm de todos os lados. Se por um lado somos vistas como consumidoras vorazes de produtos que prometem juventude eterna, por outro, somos forçadas a nos adequar aos padrões ditados pelo mercado e, pior, por um olhar masculino, que insiste em nos enquadrar como algo descartável à medida que o tempo avança.
O filme expõe com crueza o sacrifício que muitas fazem para satisfazer essas exigências, chegando a extremos para atender às expectativas impostas. E o mais angustiante é perceber que, em grande parte, esse esforço não é apenas para agradar os outros, o que já não deveria ser, mas para satisfazer um ego fragilizado por essas cobranças incessantes.
A ficção se mistura à realidade de maneira brutal. Quantas de nós não conhecemos histórias de mulheres que se submetem a procedimentos dolorosos, dietas insanas e produtos milagrosos para manter um ideal de beleza inalcançável? Quantas não sentiram na pele o peso do etarismo, a invisibilidade que chega com os anos?
“A Substância” nos lembra que ainda há muito a ser discutido e combatido. Precisamos reivindicar espaços e construir novas narrativas sobre o envelhecimento feminino. O tempo passa, sim, mas não deveria nos apagar. Que este filme seja mais do que uma indicação ao Oscar; que ele provoque reflexões e desperte a consciência para que as futuras gerações de mulheres não tenham que lutar contra os mesmos fantasmas que nos assombram hoje. Que precisamos ser nós mesmas e aceitas como somos. E precisamos todos evoluir!
A aceitação da mulher pela sociedade ainda é um desafio diário, mas é igualmente importante que cada uma de nós se aceite e se valorize. O peso das expectativas externas não pode ser maior do que o amor próprio. Devemos nos olhar com carinho, reconhecer nossa trajetória, nossas conquistas e entender que beleza não é um padrão imposto, mas um reflexo da autenticidade e da história que carregamos. Quando nos permitimos ser quem realmente somos, sem medo do julgamento alheio, damos um passo importante para transformar essa realidade. O respeito e a dignidade começam dentro de nós e entre nós, e é essa força que deve guiar nossa caminhada.

Zezé Béchade
Zezé Béchade é jornalista, especialista em Gestão e Políticas Públicas, bacharela em Direito e mestra em Ciências Jurídicas-Direitos Humanos.