Faz parte da chamada sabedoria popular o ditado que diz: “as aparências enganam”. Nesse mesmo norte, também encontramos: “quem vê cara não vê coração”. Daí a orientação, de nossos avós e pais, para sempre termos cautela para não nos deixarmos levar, de imediato e inocentemente, pela beleza aparente, pela conversa fluente e dócil, mas que verdadeiramente, em alguns casos, trás consigo o camuflado ardil e o veneno de quem quer ser esperto demais, ludibriar, ou mesmo, passar a perna em alguém.
Quantas vezes já ouvimos dos mais velhos a orientação no sentido de que a beleza da embalagem nem sempre representa a essência do conteúdo. Realmente essas visões que apontam a sapiência do povo devem ser observadas por nós no nosso dia a dia.
Um amigo, coisa rara hoje em dia, chamou-me atenção, dizendo: “temos que ter muito cuidado com alguns engomadinhos que andam por ai. Eles distribuem sorrisos, nos cercam com um bom papo, com presteza, colocam à mostra um lado de bom samaritano, no entanto, isso é apenas um artifício, um comportamento pré-estabelecido, minuciosamente estudado para cinicamente angariar vantangens em detrimento do prejuízo moral ou material de alguém”.
A verdade é que eles não estão preocupados com os danos que irão proporcionar às outras pessoas, pois simplesmente o que importa, dentro do egocentrismo que predomina na mente e na alma de pessoas dessa estirpe, é o “lucro” obtido diante de suas estratégias, mesmo que sejam inescrupulosas. Daí porque muitos desses indivíduos já não estão sendo mais taxados como “caras de pau” ou “cínicos”, mas sim, de seres que carregam em si o próprio “mal personificado”. São os que usam a inteligência de forma torpe para única e exclusivamente infligir sofrimentos, humilhações e torturas psicológicas a seus semelhantes. E o pior é que se acham os donos do pedaço e menospreçam a inteligência de todos.
Muitas vezes não enxergam que o seu comportamento ardiloso já foi há tempo manjado. Por isso, quando essa conduta torna-se patente, então, o conteúdo pobre, podre e desprezível existente no interior daquela bela embalagem aflora e faz com que a aparência, até então, de um bom cidadão caia por terra. A imagem, agora, apresenta-se real, digital e o rotulo de mau caráter ostensivo, acompanhará esse mísero farrapo humano até seus últimos dias.
Não pensem que isso seja ficção. Basta olhar ao seu redor que, indubitavelmente, você encontrará pessoas que se enquadram nesse medonho perfil. Isso é fruto da inversão de valores reinantes na sociedade moderna, onde erroneamente alguns pensam que a inteligência foi feita para ser empregada, a qualquer custo, na busca das ambições inconfessáveis.
O que fazer? Já se disse que conselho se fosse bom não se dava, mas sim, se vendia. Todavia, não custa nada de vez em quando seguirmos a orientação dos mais velhos. A voz da experiência é de grande valia para nortear nosso dia-a-dia.
ONALDO QUEIROGA
Onaldo Queiroga
Juiz da 5ª Vara Cível de João Pessoa e ocupa o cargo de juiz auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba. Ingressou na literatura com o livro Esquinas da Vida e prosseguiu com Baião em Crônicas, Reflexões, Por Amor ao Forró, Crônicas de um Viajante, Meditações, Monólogos do meu Tempo; Efeitos, Homíneos e Naturais. Gonzagólogo - conhecer e colecionador da obra de Luiz Gonzaga.