Foto: NASA/Bill Dunford / Personare

Eu tinha uns 8 anos de idade, lá nos meados dos anos 70, quando disseram que a lua ia tomar a frente do sol e a gente teria um eclipse.

Passaram um mês falando desse eclipse que aconteceria por volta das 11 da manhã. Disseram que o mundo ia escurecer com o eclipse, e no sertão da Paraíba o dia viraria noite às 11 da manhã.

Disseram que seria o fim do mundo. Disseram que seria o momento de pagarmos todos os nossos pecados.
Disseram que as mulheres “adúlteras”, aquelas que traíam os maridos, haveriam de sumir na escuridão do meio dia.
Disseram que Deus não haveria de perdoar os pecadores.
Disseram, enfim, que seria o fim do mundo.

Passamos um mês esperando pelo eclipse.

Disseram que, apesar da escuridão, a gente poderia contemplar o fenômeno colocando um caco de vidro na frente do olho ou uma radiografia, uma dessas “chapas” de exames de saúde, para que pudéssemos contemplar o sol no escuro.

Meu pai tinha um bar e eu lembro que quebrei uma garrafa de cachaça Pitu, extraída do estoque dele, para que pudesse conseguir um caco de vidro para colocar na frente do olho e contemplar o sol no escuro.

Hoje, com o eclipse anunciado para este sábado – 14 de outubro de 2023 – estão dizendo que não usemos cacos de vidro, nem chapas de exames e nem mesmo óculos escuros, para não corrermos o risco de perder a visão.

Seja lá o que for, cuidados e fantasias sempre revestem esses momentos fenomenais.

Lembro do primeiro eclipse da minha vida e me decepcionei, pois o mundo não escureceu como me disseram.

Haja o que houver, não vou olhar para sol. Fotografias não faltarão depois, assim como não faltarão as imagens na TV e nas redes.

Vou tomar um chope e olhar para o chão às quatro da tarde, pois não pretendo sofrer com a decepção de um caquinho de vidro que nem poderei usar.