Era pra ser publicado no dia 1º de setembro, dia de aniversário do meu querido amigo Mestre Fuba. Mas, com as atenções voltadas para o lançamento do seu primeiro livro de poesia (Hipotálamo), entre um abraço, sorrisos e outras coisas ditas para ele ouvir, acabei procrastinando essa publicação. Sei que muito que falo aqui pode não ser novidade, mas nessa linha do tempo quase “biográfica”, há recortes das andanças e peripécias de Fuba que merecem ser reveladas. Muito do que você vai ler  tem as digitais de Fuba no jeito de falar, muitas vezes engraçado. Quem sabe não sirva de preâmbulo e estímulo para uma possível autobiografia que um dia ainda será materializada. São muitas curiosidades. Boa leitura!

Músico, escritor, compositor, poeta, produtor cultural e presidente do Bloco Muriçocas do Miramar, ex-vereador de João Pessoa.

Flávio Eduardo Maroja Ribeiro, Flávio Eduardo Fuba, Mestre Fuba ou simplesmente Fuba. Quem nunca ouviu falar? A cara das Muriçocas do Miramar e das prévias carnavalescas de João Pessoa, Fuba é uma das pessoas mais importantes do movimento cultural paraibano. Está intimamente ligado à cultura popular, invade vários cenários, atravessando várias vertentes artísticas. Não fica só na música. A importância de Fuba não é só pela questão artística, mas pelo próprio ambiente que ele cria para poder influenciar a cultura em João Pessoa, seja na literatura, nos eventos das prévias carnavalescas ou em suas composições. É também autor do polêmico livro “Paraíba 1930: A verdade omitida” que recentemente foi lançado em sua segunda edição.

Fuba passou a infância em Campina Grande e, nesta cidade, em meados de 1960, começou sua trajetória musical tocando bateria aos nove anos de idade, no conjunto os “Peraltas” junto com seus irmãos Pedro Flávio e Paulo Ricardo, do amigo Geovanne Barros e do primo Valério Moura.

Depois que seu pai faliu, foi morar em João Pessoa, em seguida, foi pro Rio de Janeiro fazer o terceiro ano científico e passou no vestibular para Engenharia Elétrica. Tocava nos bares de Copacabana, de mesa em mesa, com um amigo fotógrafo que fotografava em polaroide. Muitas vezes ia do Posto 6 ao Leme tocando e arrecadando para pagar as despesas.  Tocava, às vezes, em movimentos contra a Ditadura e, por conta disso, foi preso em 1975. Depois de três dias sendo interrogado e pré-torturado, resolveram recambiá-lo para o (Centro de Operações de Defesa Interna -DOI-CODI) para receber as práticas da ditadura.  Foi salvo pelo gongo, quando um amigo que dividia apto resolveu procurar pelo seu paradeiro e acabou sendo “libertado” do Doi Cod.

Por conta disso, voltou para a Paraíba a pedido do pai e foi transferido para o curso de Engenharia Mecânica na URNE (Universidade Regional do Nordeste). Um ano depois, a URNE foi encampada pela UFPB e mais uma vez mudou de curso para Engenharia Civil. Costuma dizer em seus shows que “fez Engenharia Elétrica e deu choque nas disciplinas, passou pra Mecânica e não engrenou e acabou fazendo Civil que não serviu pra nada”.

No final dos anos 70 resolveu abandonar a Engenharia e se mandou para o Rio de Janeiro para tentar música.

Em 1980 virou mochileiro. Participava de tudo quanto era eventos, buscando espaço para tocar, até que viajou pelo Brasil afora com o amigo, Waldo do Vale, tocando, rodando chapéu, viajando de carona, dormindo em praças, até chegar à Bolívia e Peru.

Na volta, aprendeu a fazer pulseira de missanga e vendia nos capôs dos carros no Baixo Leblon.

Em 1981, teve sua primeira música gravada por Elba Ramalho e aí começou a engrenar na música com mais intensidade.

Registro de 1979, no bar do Buracão, em Campina Grande

Fez parte da comunidade e movimento que abraçou a música nordestina, liderado por paraibanos e pernambucanos. Fazia parte dessa trupe: Bráulio Tavares, Alex Madureira, Ivan Santos, Lenine, Lula Queiroga, Tadeu Mathias, e ainda passaram por lá Zé Rocha, Pedro Osmar, Jarbas Mariz, entre outros. Vários shows foram realizados, principalmente no Bar do Violeiro, um referencial da Música brasileira nessa época.

Geraldo Azevedo, Lenine e Fuba

Teve depois música gravada em parceria com Lenine. Em 1981, Elba gravou a música “Temporal” e em 1983 “A volta dos trovões”, ambas uma parceria de Fuba com Bráulio Tavares.

Compôs trilhas para cinema, tais como: “Entre a Estrela e a Catacumba” de Machado Bittencourt, “O Namorador” de Everaldo Vasconcelos, “O Sonho de Inacim” de Eliézer Rolim, sendo que: tanto no filme “Namorador” como no “Sonho de Inacim”,  participou também como ator.

Compôs, ainda, várias vinhetas para rádios de SP como a Rádio Amparo FM, que foi toda repaginada com vinhetas criadas por ele.

Depois do primeiro Rock in Rio, as gravadoras passaram a investir no rock e radicalizou a música nordestina deixando sem espaço algum na MPB. Nessa onda, ainda tentou criar um grupo “micótico”, compondo várias músicas de terror, alguns rocks inclusive. O nome do grupo era MICOSE DE PRAIA e o nome do show “Micose Pega”, mas ficou apenas no conceito do querer, porque as letras eram chocantes e excessivas para um público reduzido.

Em 1986, casou e veio morar em João Pessoa onde foi redator por dois anos na Real Publicidade. Em 1987, foi apresentado a Vitória Lima por Bob Zácara, um amigo em comum, onde a mesma pediu para que ele fizesse o Hino das Muriçocas, bloco entre amigos e pessoas ligadas à Universidade. Isso foi no dia 22 de fevereiro. A música foi composta na mesma noite e o bloco saiu pela primeira vez, do bairro Miramar até um bar chamado “A Nutritiva”, em Tambaú, numa quarta-feira, dia 25 de fevereiro de 1987. No ano seguinte, Vitória foi fazer mestrado fora e, junto a Bob e Eliane, resolveu recolocar o bloco na rua. Como trabalhava na Real, pediu que Cloves Mendes, o desenhista da época, fizesse uma Muriçoca pra estampar na camisa. Foi em busca de patrocínio, mas ninguém queria patrocinar um bloco numa cidade que não tinha carnaval. Fuba bancou…

Sua experiência com o carnaval, porém, começou com o bloco “Escorrega no Trilho” em Santa Tereza, RJ, em 1983, com música de Fuba, Lenine e Alex Madureira, que fez grande sucesso em Santa Tereza.

Em 1989, voltou a morar em São Paulo. Começou a trabalhar no Jornal da Prefeitura de Campinas, onde tinha uma página sobre cultura e escrevia em literatura de cordel, e com o amigo Paulo Daniel, fez vários shows na região. Resolveu participar do concurso do Hino da Cidade de Pedreira, o maior polo de porcelana do Brasil, e acabou ganhando o primeiro lugar e com o dinheiro do prêmio investiu em jingles publicitários sem compromisso. Depois de passar um mês escutando todas rádios de Campinas e região, anotando o slogan, o tipo de comércio e cada cliente que não tinha jingle, compôs 98 peças publicitárias (jingle) e foi vender de porta em porta. Dos 98 jingles foram vendidos 76 e daí ficou sendo conhecido como “jingueiro” da região.

Em 1995 voltou a morar em JP. Em 1996 foi candidato a vice prefeito na coligação PT, PPS e PV junto ao Padre Luiz Couto. Era a junção do sagrado com o profano e a imprensa brincava que era “Deus e o Diabo na terra do Sol”

Em 1997, 98 e 99 se dedicou ao projeto ACORDE BRASIL. Esse projeto tinha como finalidade celebrar o primeiro sol do ano 2000 exatamente no Extremo Oriental das Américas. Consistia em trazer obras de todo Brasil  no campo da fotografia, artistas plásticos e artesanato, além de grupos de cultura popular de cada Estado. Foi estabelecido também apresentação de um artista musical de cada estado totalizando 27 apresentações. Viajou para Portugal a convite do empresário Diniz Rodrigues e foi formalizada a parceria de uma regata saindo do Cabo da Rocca, com 27 barcos, representando cada Estado Brasileiro, saindo do extremo ocidental com destino ao extremo oriental das Américas (Praia do Seixas), que chegaria exatamente no dia 1º de janeiro de 2000.  Em sua segunda viagem a Portugal foi recebido por uma coletiva de TVs de quase toda Europa. Países como Alemanha, Itália, Espanha, Inglaterra, Suíça, além de Portugal, estiveram apoiando o Acorde Brasil que, depois de mais de cinco anos de trabalho, foi quebrada a parceria entre Portugal e o governo da Paraíba. Ainda assim, pra tapar o buraco, foi acionado o Folia de Rua para ir à praia e teve um show de Fuba com Chico Cézar na ponta do Cabo Branco.

É bom relembrar que até 1999 o réveillon de João Pessoa era celebrado nas próprias casas de famílias ou em festas de clubes. A partir do Acorde Brasil, o réveillon passou a ser realizado na praia de Tambaú.

Fico por aqui…. com apenas alguns recortes da vida desse patrimônio vivo da cultura paraibana. A riqueza de detalhes de cada passagem dessa e o que mais foi vivido a partir de 2000 até os dias atuais, deixo para ele em sua autobiografia. Tomara!