Uma potiguar está entre os semifinalistas da 65º edição do Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio literário do Brasil. A indígena Eva Potiguara concorre na categoria Poesia com o livro Aby Ayala Membyra Nhe’Engara: cânticos de uma filha da terra, publicado pela editora UK’A Editorial, e na categoria Fomento à Leitura, com Álbum Guerreiras da Ancestralidade do Mulherio das Letras Indígenas, antologia que organizou.
Ela conta que Aby Ayala foi inscrito pelo editor Daniel Munduruku e ficou surpresa ao ser selecionada. “Pra mim, é importante estar nesse processo, porque o meu trabalho é de uma poética que não está dentro dos parâmetros dos cânones clássicos da literatura. Eu vejo como um processo decolonial. Para mim, isso é muito significativo, visto que a minha, a nossa luta, dos povos indígenas, na cidade ou nas aldeias, é sermos ouvidos, sermos lidos, sermos lembrados e respeitados. É fundamental essa possibilidade de ter sido lida por pessoas que provavelmente eu nunca teria como leitoras.”, diz a escritora.
Com textos carregados de luta por reparação, justiça social e reconhecimento, Evanir de Oliveira Pinheiro procura falar com a voz do povo que apresenta na assinatura, Potiguara: “Eu sempre gosto de usar o pronome na terceira pessoa do plural, porque quando eu escrevo sinto que a minha escrita não é de uma pessoa só; é de uma comunidade; de uma centralidade que está corporificada na minha pele.”
Assim, tem falas marcadas pelo conhecimento e por conceitos do indigenismo. “Essa terra aqui não é Brasil, é Pindorama. Nós não somos americanos, somos filhos da Aby Ayala, filhos da terra”, pontua, avisando que em seu livro há poemas para navegar ou flutuar e outros são de ventanias. Eva descreve poemas com cheiro de mato e chuva da manhã, além dos que são como fogo. A ligação com os elementos e com as raízes são recorrentes, como em “Mátria Amada”, que destaca.
(…)
Cinco séculos de opressão
De Norte ao Sul deste Brasil
Impera o racismo e usurpação
Nosso levante é resistência
Por liberdade e demarcação
Todas as cores pedem justiça
reflorestamento e preservação
Pela Mátria Amada salve, salve!
Respeitem nossa ConstituiçãoOu salvemos a Terra Mãe
Ou perdemos o Brasil!
A escritora
Eva é também artista audiovisual e pesquisadora de literatura e cultura indígena do Grupo Linguagens e Autoformação vinculado ao CNPQ. Tem graduação em Artes Plásticas, mestrado e doutorado em Educação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e é professora nas áreas de formação docente em Pedagogia e Letras do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy (Ifesp).
É titular de várias academias de Letras e Artes, entre elas Académie Luninescence da devoção das Artes e Letras da França – sucursal Brasil. É membro imortal da cadeira 13 da Academia de Letras do Brasil – ALB, seccional Campos de Goitacazes/RJ; membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal – Nalap; membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN – SPVA e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares – Alamp. Também é membro da Associação Internacional de Literatura e Arte – Literarte e do Mulherio das Letras Nísia Floresta.
Apesar da aparente formalidade diante do currículo, ela diz não ter pretensão de trazer uma estética requintada, dentro de normas rigorosas: “A minha responsabilidade e a minha manifestação é com uma escriba de muitas vozes que estão na minha pele, no meu DNA, na minha estrutura enquanto ser que faz parte de uma teia que luta para honrar a vida dos ancestrais, por meio da minha própria vida. Eu uso a voz, a poesia para isso”.
Eva é também artista audiovisual e pesquisadora de literatura e cultura indígena do Grupo Linguagens e Autoformação vinculado ao CNPQ. Tem graduação em Artes Plásticas, mestrado e doutorado em Educação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e é professora nas áreas de formação docente em Pedagogia e Letras do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy (Ifesp).
É titular de várias academias de Letras e Artes, entre elas Académie Luninescence da devoção das Artes e Letras da França – sucursal Brasil. É membro imortal da cadeira 13 da Academia de Letras do Brasil – ALB, seccional Campos de Goitacazes/RJ; membro do Núcleo Acadêmico de Letras e Artes de Portugal – Nalap; membro da Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN – SPVA e da Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares – Alamp. Também é membro da Associação Internacional de Literatura e Arte – Literarte e do Mulherio das Letras Nísia Floresta.
Apesar da aparente formalidade diante do currículo, ela diz não ter pretensão de trazer uma estética requintada, dentro de normas rigorosas: “A minha responsabilidade e a minha manifestação é com uma escriba de muitas vozes que estão na minha pele, no meu DNA, na minha estrutura enquanto ser que faz parte de uma teia que luta para honrar a vida dos ancestrais, por meio da minha própria vida. Eu uso a voz, a poesia para isso”.
A individualidade também aparece. Em tratamento de câncer, Eva acredita que história e momento delineiam os cânticos da filha da terra que ela é. Fala que as artes estão em sua vida desde a infância, uma época em que as raízes tinham sido apagadas – passado comum a numerosos descendentes de povos originários.
“Depois que a minha avó morreu eu descobri a história da minha bisavó, que foi estuprada pelo meu bisavô. Ela era indígena na aldeia Potiguara, no Brejo Paraibano. Aí fui descobrindo minha trisavó, tetravó e fui me aprofundando nesse caminho ancestral, fazendo transformações internas.”
Ao conhecer a aldeia na Paraíba relatou sentir a presença das tias e da avó nas mulheres dali, não apenas no fenótipo delas, mas também no cotidiano.
“Minha avó era benzedeira, fazia as próprias roupas e a forma como eles faziam as comidas era muito ligada ao que eu via com minha avó. Já era uma linguagem dessa cultura. Depois me deparei com o conhecimento da minha família paterna que tem raiz em Goianinha, no Agreste do Rio Grande do Norte e também no rio Tinto, fronteira com Baía Formosa. Eu disse: pronto, sou potiguara pelos dois lados”, lembra.
A conexão se fortaleceu nos últimos anos, quando se aproximou mais dos parentes e viajou participando de movimentos contra o Marco Temporal, Marcha das Mulheres Indígenas, Acampamento Terra Livre.
Foi quando trocou o sobrenome de trabalho “Potiguar” por “Portiguara”. A denominação dada aos nascidos no Rio Grande do Norte, segundo Eva, é uma invenção branca. “Eu não sou apenas comedora de camarão como disse Câmara Cascudo, sou uma mulher indígena”.
Prêmio Jabuti 2023
A lista com as dez obras selecionadas por foi divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). A próxima etapa será em 21 de novembro, quando serão anunciados os cinco finalistas por categoria. Os vencedores serão revelados no dia 5 de dezembro, em cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo.
O livro de Potiguara disputa com A água é uma máquina do tempo, de Aline Motta; A nova utopia, de Régis Bonvicino; Alma corsária, de Claudia Roquette-Pinto; Araras vermelhas, de Cida Pedrosa; Engenheiro fantasma, de Fabrício Corsaletti; Fim de verão, de Paulo Henriques Britto; Rio Pequeno, de Floresta; Sonetos de birosca e poemas de terreiro, de Luiz Antonio Simas; e Weiyamî: mulheres que fazem sol, de Sony Ferseck. Confira a lista completa de semifinalistas.
Em 2023, o Jabuti recebeu inscrições de 4.245 obras. Entregue desde 1959, o Prêmio tem 21 categorias divididas em quatro eixos: Ficção (Conto; Crônica; Histórias em Quadrinhos; Infantil; Juvenil; Poesia; Romance de Entretenimento; Romance Literário) e Não Ficção (Artes; Biografia e Reportagem; Ciências; Ciências Humanas; Ciências Sociais; Economia Criativa), Produção Editorial (Capa, Ilustração, Projeto Gráfico e Tradução) e Inovação (Escritor Estreante, Fomento à Leitura e Livro Brasileiro Publicado no Exterior).
Os vencedores dos Eixos Ficção e Não Ficção concorrem também na categoria Livro do Ano, cujo prêmio são R$ 70 mil e uma viagem à próxima edição da Feira do Livro de Frankfurt, grande balcão de negócios editoriais. Até 2022, o prêmio era de R$ 100 mil reais, mas foi reajustado para custear a ida do vencedor à Frankfurt, com o objetivo de ajudar na internacionalização da obra do autor. Os demais ganhadores levam uma estatueta e R$ 5 mil.