A dança carrega na sua evolução uma forte segregação social, em plena harmonia com a profunda estratificação de nossa sociedade. Não à toa, a dança sempre manteve desde muitas eras uma relação direta com os clubes socias. E nada mais seletivo do que esses clubes. Impossível imaginar a coexistência de classes sociais diversificadas dentro de um mesmo clube Classe A e B no seu próprio terreno. Classes D e E que curtam os bailes da periferia.

Esse raciocínio foi estimulado por uma visita ao Sabadinho Bom, mistura de música de qualidade, som competente e dança pra lá de espontânea. Ali, no Centro Histórico da capital da Paraíba, gente dança por livre e espontânea vontade. Tão espontânea e tão livre que, vejam vocês, produz uma total ruptura na segregação social secularmente entranhada na sociedade brasileira.

Na descontração do Sabadinho Bom se dança pelo simples e exclusivo prazer de dançar. E é no embalo desse prazer que são soterrados todos os preconceitos de que se tem notícia – racial, etário, social… Porque é no Sabadinho Bom que velhos, menos velhos e moços se entrelaçam ao som de belas músicas para dançarem suas danças que muitos, de muitas gerações, nem sequer se lembram mais de dançar.

É também no Sabadinho Bom que  brancos e pretos se agarram e se embalam ao som de músicas que muitos de nós esquecemos de ouvir. E o Sabadinho Bom, acreditem, é o único e exclusivo lugar onde todas as classes sociais se encontram, interagem, se abraçam e dançam músicas que todos nós já dançamos há muito tempo e infelizmente já não dançamos mais.

O Sabadinho Bom estabelece, portanto, o único refúgio onde a liberdade social caminha de mãos dadas com o prazer espontâneo de dançar.

 



Por Texto e vídeo do médico e escritor Sebastião Costa