Foto: Larissa Hobi

O que representa uma geladeira? É o que o público poderá experienciar no espetáculo “Réquiem para Geralda”. Com texto e atuação de Ana Marinho e direção de Duílio Cunha, o espetáculo tem apresentações gratuitas marcadas para os próximos dias 6, às 19h, e dias 7 e 8 de dezembro, às 17h30. O espetáculo vai acontecer numa serralheria na praça Abdon Milanez, no box 54 do Mercado Público do Castelo Branco, e contará com audiodescrição e libras.

Para assegurar o acesso, haverá um serviço de traslado para pessoas com deficiência, com saída da Praça da Paz, nos Bancários. Ao final da apresentação, o mesmo serviço será ofertado para levar esse público de volta à praça. As vagas são limitadas, por isso, é preciso fazer a reserva pelo whatsapp (83) 99609 6524 com Larissa Hobi.

“Réquiem para Geralda” se materializa a partir de um processo de cocriação que envolve pessoas com e sem deficiência, a exemplo da atriz e professora de literatura Ana Marinho; do ator, diretor e professor de teatro Duílio Cunha; da musicista, performer, pesquisadora e educadora Tânia Neiva; da audiodescritora, professora de teatro, artista e pesquisadora Larissa Hobi e da audiodescritora consultora Cida Leite.

Larissa Hobi, licenciada (UFPB) e mestra (UFRN) em artes cênicas e especialista em audiodescrição (UFJF), vem pesquisando em sua tese de doutorado as trans(Ações) entre a cena teatral performativa, a audiodescrição, a multissensorialidade e as acessibilidades cultural e estética desde a pré-produção de um espetáculo teatral em uma perspectiva da encenação e precisava, então, investigar na prática sua tese. A partir dessa necessidade, das parcerias e de desejos que convergiam, tomou corpo em “Réquiem para Geralda”, uma desmontagem do espetáculo “Razão para ficar”, que teve estreia em 2016.

Tendo como pano fundo a cena teatral performativa e a acessibilidade cultural, a equipe intencionava desde o início que o espetáculo acontecesse em um espaço não formal. A partir desse desejo, chegou-se à serralheria. “Desde as primeiras conversas sentimos a necessidade de construir um espetáculo que flertasse com o teatro performativo, com elementos do real. Era fundamental encarar o desafio de ocupar e explorar o espaço de uma serralheria e tirar partido desse local como mais uma camada narrativa do espetáculo”, explicou o diretor Duílio.

Como resultado desse trabalho colaborativo, que reúne várias pesquisas individuais que estabelecem relações dialógicas, “Réquiem para Geralda” estreia trazendo possibilidades de fruir que não se limitam aos sentidos mais usuais nas artes da cena, como a visão e a audição. Essa proposta, porém, não se limita a espectadores com deficiência sensorial, convidando todos os espectadores a se abrirem para a experiência proposta.

“Venho investigando, na minha tese, como produzir uma audiodescrição que não se limite às diretrizes técnicas, mas sim que estabeleça diálogo com as potencialidades poéticas da cena teatral performativa, enfocando na multissensorialidade, no jogo e na experiência, considerando a audiodescrição como um elemento da encenação que precisa passar pelo processo de regulagem”, acrescentou, Larissa.

Geralda – Geralda, assim nomeada a geladeira Frigidaire que está em cena em “Réquiem para Geralda” e que também esteve em cena em “Razão para ficar”, foi a primeira geladeira da mãe de Ana Marinho, no ano de 1951. A atriz conta que a geladeira funcionou por muito tempo até ser usada como objeto cênico. “Geralda representa muitas coisas, é quase um metateatro, pois fala sobre as dificuldades de fazer teatro hoje em dia, de cenas que envolvem cenários, que precisam de transporte. Por outro lado, tem essa representação do universo familiar de classe média mesmo”, contou Ana.

Ana complementa que a geladeira é um artefato, mas que carrega consigo muitas lembranças, muitas histórias, muitas questões relacionadas ao gênero, as violências patriarcais. “A gente entra, também, nesse mundo, pensando nesse lugar de mulheres de classe média, que é o lugar de onde eu falo da minha família, e que são representadas no modelo de mãe, no modelo de família, até na própria propaganda desses eletrodomésticos, até hoje”, completou.

Desmontando Razão Para Ficar – O espetáculo “Razão para ficar” teve estreia em 2016, no Piollin, e circulou por alguns anos com Geralda em cena. Depois, Ana Marinho passou um tempo fora do Brasil fazendo um pós-doutorado e, de retorno, seus pensamentos revisitaram o trabalho. “Eu precisava desmontar porque é um espetáculo que toca em feridas difíceis para muitas mulheres e para mim também. Conversando com Duílio Cunha, eu disse que queria muito desmontar o “Razão…”. E aí as coisas foram surgindo e eu fui me empolgando, disse.

Uma montagem teatral, explicou Duílio, é sempre um desafio e uma possibilidade de avanço na criação artística. A novidade agora seria de [des]montar um espetáculo ou construir algo a partir da [des]construção de uma obra que já vinha sendo apresentada há oito anos.

“Quem for ver o trabalho vai reconhecer alguns elementos de uma desmontagem, mas a ideia não era se prender a uma forma absoluta. Na direção deste trabalho, me guiei menos pela busca de uma dada estética e muito mais pela escrita, escuta e desejos da atriz-criadora em relação ao seu próprio trabalho. A desmontagem será apenas uma possibilidade de leitura sem a dependência de conhecer a obra anterior ou obra-fonte”, falou o diretor.

Outros espaços – “Réquiem para Geralda também será apresentada no Instituto dos Cegos e na Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência. Além disso, uma oficina sobre acessibilidade cultural completa o conjunto do projeto.

“Réquiem para Geralda” foi realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo, através do Governo do Estado, via Secretaria Estadual de Cultura da Paraíba.

Serviço
Réquiem para Geralda
Entrada gratuita
Datas: 6/12, às 19h; 7 e 8/12, às 17h30
Local – Praça Abdon Milanez, box 54 – Mercado público do Castelo Branco I
Classificação indicativa – 18 anos (consumo de bebida alcoólica em cena)

Contato para imprensa: Rogéria Araújo (85) 996192566