
O Oscar 2025 reforçou um padrão já conhecido: nem todas as mulheres têm as mesmas chances quando se trata de reconhecimento. Embora a cerimônia tenha contado com indicações diversas, o prêmio de Melhor Atriz foi entregue à jovem Mikey Madison, de 25 anos, por sua atuação em Anora. Nada contra o talento de Madison, mas a decisão do júri repete uma lógica frequente na indústria: a juventude continua sendo um critério determinante para que mulheres alcancem os holofotes.
Dentre as concorrentes estavam Cynthia Erivo, uma mulher preta; Karla Sofía Gascón, uma mulher trans; e Demi Moore, que brilhou em um papel que desafia a invisibilidade feminina. Mas talvez o caso mais simbólico tenha sido o de Fernanda Torres.
No filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, Torres vive Eunice Paiva, advogada e ativista que passou décadas buscando a verdade sobre o desaparecimento de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura militar. O longa garantiu ao Brasil seu primeiro Oscar de Melhor Filme Internacional, mas, na categoria de atuação, a estatueta escapou novamente.
A cena lembra o episódio de Fernanda Montenegro, que, apesar de sua interpretação magistral em Central do Brasil, perdeu para Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado. Décadas depois, sua filha enfrenta um roteiro semelhante: uma atuação amplamente elogiada, mas sem a consagração da Academia.
Outro caso emblemático foi o de A Substância, longa que discute o apagamento das mulheres maduras. Irônico – ou trágico – que Demi Moore, protagonista do filme, tenha sido preterida por uma atriz bem mais jovem. A arte imitou a vida, ou melhor, a realidade confirmou o que a ficção já denunciava.
Enquanto isso, Anora dominou a premiação, conquistando cinco dos seis prêmios a que foi indicado, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção (Sean Baker), Melhor Montagem e Melhor Roteiro Original. Um reconhecimento expressivo para Baker, mas que levanta questões sobre quem continua sendo privilegiado nessas escolhas.
Já O Brutalista deu o segundo Oscar a Adrien Brody e levou ainda as estatuetas de Fotografia e Trilha Sonora. Conclave foi o vencedor de Roteiro Adaptado, e Kieran Culkin conquistou o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante por A Verdadeira Dor.
Concorrente de Ainda Estou Aqui em Melhor Filme Internacional, Flow fez história ao dar o primeiro Oscar à Letônia, vencendo também na categoria de Melhor Animação.
Na categoria de Melhor Documentário, a vitória foi para No Other Land (Sem Chão), um projeto realizado por um coletivo israelo-palestino e dirigido por Yuval Abraham, Basel Adra, Hamdan Ballal e Rachel Szor. O documentário participativo acompanha a luta de Basel e sua família ao longo de cinco anos em Masafer Yatta, uma comunidade palestina localizada no Sul da Cisjordânia, ocupada pelo exército de Israel. O filme já havia sido premiado em festivais como Berlim, Palm Springs e San Diego. Durante seu discurso de agradecimento, Yuval Abraham, jornalista israelense e um dos diretores, fez um apelo emocionado por uma solução para o conflito em Gaza: “Não dá para ver que nós dois somos unidos? O meu povo só vai ficar seguro se o povo do Basel estiver livre e seguro. Existe uma outra forma de fazer as coisas. Não está tarde demais.”
Líder de indicações neste ano, concorrendo a 13 estatuetas, Emília Pérez conseguiu vencer apenas duas categorias: Zoe Saldaña foi a Melhor Atriz Coadjuvante, e El Mal, de Camille, levou o prêmio de Melhor Canção. Grande vencedor no Globo de Ouro, A Substância acabou levando apenas o Oscar de Maquiagem e Cabelo. Os prêmios técnicos se dividiram entre Duna: Parte 2, que venceu Efeitos Visuais e Som, e Wicked, vencedor de Direção de Arte e Figurino.
Se o Oscar reflete a indústria do entretenimento, e esta, por sua vez, reflete a sociedade, a pergunta que fica é: quais mulheres são escolhidas — e quais continuam sem o reconhecimento merecido?