Cantora e atriz faleceu de causas naturais, no Rio de Janeiro
Artista que estreou ainda na década de 1940 ficou conhecida pela ‘voz pequena’ e gravou mais de 60 álbuns
A música popular brasileira perdeu uma voz renomada nesta segunda-feira (24). Doris Monteiro morreu aos 88 anos, de causas naturais, em sua casa, no Rio de Janeiro, segundo comunicado postado nas redes sociais da cantora.
“É com muito pesar que comunicamos o falecimento da cantora e atriz Doris Monteiro, na madrugada desta segunda-feira 24/07/23. Doris partiu de causas naturais em sua residência, no Rio de Janeiro. Mais informações sobre velório e sepultamento serão divulgadas oportunamente.”
Nascida Adelina Doris Monteiro, ela começou a cantar profissionalmente aos 15 anos em programas de calouros no rádio, em francês. Estrela da era de ouro, conquistou o Brasil na década de 1950.
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Associada à bossa nova, Doris começou sua carreira profissional bem antes do movimento estourar, quando lançou em 1951, aos 16 anos, em 1951, um compacto pela gravadora Todamérica, com duas músicas. As gravações não foram recebidas muito bem pela crítica, mas uma delas, a canção Se Você Se Importasse, se tornou sucesso e impulsionou a carreira de Doris.
Com voz suave, sem a impostação e os vibratos tão característicos da maioria dos cantores daqueles tempos, caiu muito bem para os sambas-canção mais românticos da fase pré-bossa-nova. O canto de Doris ajudou a fundar a fase da moderna música brasileira, impulsionada pelas inovações rítmicas trazidas por nomes como João Gilberto, João Donato, Tom Jobim e Johnny Alf.
Em 1958, emplacou um novo sucesso, o samba-canção Dó-Ré-Mi, composta por Fernando Cesar. Em 1964, em um disco que levava apenas seu nome do título, abraçou a bossa nova com canções como Samba de Verão, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, e Sambou Sambou, de João Donato.
Em 1969, Doris gravou o samba Mudando de Conversa, de Herminio Bello de Carvalho e Maurício de Tapajós, que se tornaria um de seus grandes sucessos de carreira.
Nos anos 1970, Doris gravou discos que hoje são cultuados pelos fãs da música brasileira, que a fizeram ser associadas ao que se chamou de sambalanço, com instrumentos de sopro para marcar bem o ritmo e com influência caribenha. As gravações de Coqueiro Verde, Garota do Pasquim e A Feira, do disco que a cantora lançou em 1970 são exemplos disso.
Essa fase de Doris, inclusive, já foi revisitada por cantoras brasileiras contemporâneas ao longo dos anos. Roberta Sá, por exemplo, regravou Alô, Fevereiro, que Doris lançou em 1972. Já Paula Lima buscou É Isso Aí no disco que Doris lançou em 1971.
Ainda na década de 1970, Doris estabeleceu uma parceria com o cantor Miltinho. Juntos, gravaram três discos com repertórios que privilegiavam sambas canção e sambas. Doris também continuou a gravar regularmente, com versões para canções de João Donato, Billy Blanco e João Nogueira.
A partir da década de 1980, as gravações se tornaram menos frequentes, mas Doris continuou ativa em shows e participações em álbuns de colegas.
Em 2020, o produtor Thiago Marques Luiz juntou Doris a Claudette Soares e Eliana Pittman no álbum As Divas do Sambalanço, gravado ao vivo em São Paulo. Nele, Doris canta faixa como Balanço Zona Sul, Bolinha de Papel e Mancada. As três cantoras passaram a fazer apresentações com esse projeto pelo Brasil.
Em, Doris, Claudette e Eliana se apresentaram no programa Faustão na Band, quando cantaram ao vivo. Doris, na ocasião, já aparentava estar com a saúde debilitada.
Doris também fez sucesso no cinema brasileiro. Em 1953, foi convidada para participar do filme Agulha no Palheiro, de Alex Viany, com o qual recebeu o prêmio de Melhor Atriz. Trabalhou ainda ao lado de nomes como Tônia Carrero, José Lewgoy, Mazzaropi e Oscarito.
Moradora de Copabacana, na zona sul carioca, costumava andar pelo bairro e a conversar com os fãs. Foi casada com o pianista Ricardo Junior, morto em 2017, que a acompanhava em shows. Doris não teve filhos.
Em entrevista ao Estadão em março de 2021, Doris falou sobre o orgulho de estar completando 70 anos de carreira. “De repente, passaram-se 70 anos. Cantei em diversos países como Portugal, Japão e Argentina. Fiz cinema. É uma carreira maravilhosa. Eu sou uma mulher feliz. O Ruy Castro (jornalista e pesquisador) me disse que sou a única cantora que fez 70 anos de carreira na ativa”, disse à época.