Professora e escritora Conceição Araújo

Foi sob o clima ameno da serra e o calor humano dos encontros culturais que a cidade de Areia testemunhou, no dia 5 de julho, o lançamento do livro “Geraldo Beltrão: os fios tecidos pela vida”, obra póstuma organizada por Ana Cláudia Cruz Córdula e Ana Raquel Brito Lira Beltrão. O evento, realizado no Solar José Rufino, reuniu familiares, amigos, autoridades e admiradores da trajetória do jurista paraibano.

A apresentação da obra coube à professora aposentada da UFPB e escritora Conceição Araújo, que emocionou o público com palavras que entrelaçaram memória, afeto e reconhecimento. A fala de Conceição destacou não apenas a trajetória jurídica e política de Beltrão, mas também sua dimensão humana: o amor à família, à música, à docência, ao serviço público e à ética como princípio vital.

“Eis-me aqui dedilhando esses fios vigorosos que teceram com rigor e trabalho um perfil deste homem de Família, de Política, de Justiça e de Humanidades”, disse a professora ao iniciar seu discurso. Ela recordou, com carinho, os tempos em que foi professora dos filhos do homenageado, Ana Raquel e Marcos Beltrão, e refletiu sobre o compromisso ético de Geraldo Beltrão com o Direito Penal, área em que se destacou como referência, sobretudo pela defesa dos bens jurídicos essenciais: a vida, o patrimônio e a honra.

No discurso, a professora Conceição também celebrou a sensibilidade artística do jurista, que tocava gaita em saraus caseiros e gostava de interpretar “Naquela Mesa”, de Sérgio Bittencourt. Não faltaram referências à sua atuação política na cidade de Alagoinha, à sua formação filosófica e marxista, e à sua devoção ao serviço, com citação ao poema “O Prazer de Servir”, de Gabriela Mistral – lido integralmente ao final da apresentação.

A condução literária do evento teve o carinho e a presença da escritora e professora Janaina Azevedo, cuja história se entrelaça com a vida cultural de Areia. Ex-secretária de Cultura do município, Janaina segue contribuindo com sensibilidade e compromisso para a qualificação das políticas públicas na área da educação. Sua atuação reafirma o valor da presença intelectual e afetiva de educadoras que entendem a cultura como parte essencial do desenvolvimento humano.

Como acadêmica de Direito, participei do lançamento a convite da amiga Janaina, com quem compartilho o entusiasmo por ações que cruzam literatura, história e justiça. Conhecer mais sobre o pensamento e o legado de Geraldo Beltrão a partir da escrita da filha foi, para mim, uma experiência enriquecedora. Um lembrete de que a biografia de um homem público também se escreve com gestos, silêncios e afetos — fios que seguem tecidos pela vida.

 

O Prazer de Servir

Gabriela Mistral

Toda a natureza é um serviço.
Serve a nuvem, serve o vento, serve a chuva.
Onde haja uma árvore para plantar, plante-a você;
Onde haja um erro para corrigir, corrija-o você;
Onde haja um trabalho e todos se esquivam, aceite-o você.
Seja o que remove a pedra do caminho,
O ódio entre os corações e as dificuldades do problema.
Há a alegria de ser puro e a de ser justo;
mas há, sobretudo, a maravilhosa, a imensa alegria de servir.

Que triste seria o mundo, se tudo se encontrasse feito,
se não existisse uma roseira para plantar, uma obra a se iniciar!

Não o chamem unicamente os trabalhos fáceis.
É muito mais belo fazer aquilo que os outros recusam.
Mas não caia no erro de que somente há mérito nos grandes trabalhos;
há pequenos serviços que são bons serviços:
adornar uma mesa, arrumar seus livros, pentear uma criança.

Aquele é o que critica; este é o que destrói; seja você o que serve.
O servir não é faina de seres inferiores,
Deus que dá os frutos e a luz, serve.
Seu nome é: AQUELE QUE SERVE!

Ele tem os olhos fixos em nossas mãos
e nos pergunta cada dia:
SERVIU HOJE? A QUEM? À ÁRVORE? A SEU IRMÃO? À SUA MÃE?

Alguns momentos do lançamento registrado pelo fotógrafo Gilberto Batista

Amizade que transpõe o tempo e se fortalece nas experiências que nos tocam: Ana Clara Maia, Eu(Edileide Vilaça) e Janaína Azevedo

Ana Raquel Brito Lira Beltrão

Tive direito a fala – fortalecendo vínculos e democratizando espaços