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Nos últimos dias esse tema tem ocupado espaço e com muito destaque na imprensa brasileira – sobretudo no Nordeste – em especial a fala infeliz, inconsequente e desproporcional do governador do Minas Gerais, o Sr. Romeu Zema (NOVO), publicado no último dia 05 de agosto, ao pregar a “união dos estados do Sul e Sudeste, contra o Nordeste em disputas políticas”.

Apoiado pelo governador do Rio Grande do Sul, Sr. Eduardo Leite (PSDB), somando-se ao governador de São Paulo Sr. Tarcisio de Freitas (Republicano). Apesar de todas as reações e críticas por suas falas “separatistas”, esses ilustres senhores eleitos democraticamente nas últimas eleições, não trouxeram nada de novo, sobre seus posicionamentos segregacionistas e separatistas.

As elites brasileiras, em especial dessas regiões, impulsionaram modelos de desenvolvimento diferenciados das regiões Norte e Nordeste e que causou sequelas que dificilmente serão recuperados, o escritor francês Jacques Lambert, quando publicou a obra “Os dois brasis” (1969), retratava a modernidade industrial e desenvolvimentista do Centro-Sul e Sul brasileiro, o chamado Brasil Europeu, contra o Brasil Africano que foi colonizado e desenvolvido na região Nordeste. Em 1984 A cantora paraibana e sertaneja Elba Ramalho, trouxe um importante reforço a essa “peleja” quando ela deu canção ao brilhante trocadilho de Ivanildo Vila Nova e Bráulio Tavares e saiu a canção O Nordeste Independente, que diga-se de passagem foi proibida de ser veiculada pelo regime militar, por incentivar a separatismo, só depois vindo a ser liberada.

Porque tanta celeuma com a fala do governador Zema? É evidente que nem o Nordeste de 1969, nem o Nordeste de 1984, existem mais. Da década de 2000 aos dias de hoje, o Nordeste mudou e tem de fato mostrado sua pujança política e se mostrado uma região independente da supremacia sulista.

Apesar de ser uma região ainda com muitos problemas, seja no Norte, seja no Nordeste, se agravado ainda mais no último governo. Somando-se essas duas regiões totalizam 16 dos 26 estados brasileiros e o distrito federal.

Mais precisamente, foi no Nordeste, mais forte do que no Norte, que a região separou-se politicamente do Sul e do Sudeste, caracterizando-se como a região “vermelha” a região que mais tem depositado confiança na esquerda brasileira, elegendo governos do campo democrático e popular e parlamentares do mesmo campo, fazendo uma disputa contra a narrativa do conservadorismo, dos terraplanistas, do agronegócio predatório, dos defensores do armamentismo, da destruição do meio ambiente e das riquezas naturais.

A região pulsa com o oxigênio da floresta amazônica, do sol vibrante que tem trazido a energia solar, dos ventos fortes para a energia eólica, que fez se concretizar uma profecia do padre Cicero Romão Batista, quando dizia: “O Sertão vai virar mar… e o mar vai virar sertão”. E a transposição do São Francisco, um rio 100% nordestino se fez realidade por vontade política de um presidente nordestino, que hoje está no seu terceiro mandato por força e vontade do povo nordestino na sua maioria e também do povo brasileiro.

No governo desastroso que passou os últimos quatro anos, os governadores do nordeste, todos eleitos em oposição àquele governo, construíram uma estratégia de enfrentamento à perseguição da região, vivida naquele período e por aquele governo, se organizando em consórcio, e foi com essa estratégia, que os e a governadora, digo no singular pois naquele período tinha apenas uma governadora mulher na história do pais, hoje são duas. Com essa estratégia conseguiram fazer o enfrentamento e definir a identidade nordestina, como um território e um povo guerreiro, que resiste e que no estribilho de Ivanildo Vila Nova, cantada por Elba Ramalho, este tema se torna real e atual, não só pela fala desastrosa dos governadores da direita brasileira que governam os estados de Minas gerais e São Paulo, mas que no mínimo defendem e reconhecem o exemplo do consórcio dos governadores(a) do nordeste como acertado.

Mais uma vez a região é exemplo pro país. Não queremos a separação, queremos uma nação forte e pulsante, mas com reconhecimento que o norte e o nordeste foram desde a colonização, o celeiro das riquezas, seja naturais, seja de mão de obra para as demais regiões do país e até berço intelectual, e que se desenvolveram com outra ótica e as custas da força motriz do norte e do nordeste, assim como toda a Europa.

Assim, quero trazer parte dessa tão brilhante canção que hoje se torna mais atual do que nunca.

Então diante dessas circunstâncias todas
É que o Poeta Popular já ta fazendo músicas
Coisas engraçadas evidentemente mas é mais ou menos assim:
Imagine o Brasil ser dividido e o Nordeste ficar independente
Então senhoras e senhores com vocês:
Ivanildo Vila Nova, e Trupizupe Bráulio Tavares o raio da silibrina

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito

Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente

Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior

Em Recife, o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda Cearense
“Asa Branca” era o hino nacional

O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar

O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o Nordeste ficar independente

Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português

Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Que as regiões Sul o Sudeste do nosso país, territórios mais ricos economicamente e maior concentração populacional, continuem avançando na história, expurgando o atraso, que ainda persiste e que sigam o exemplo de resistência do povo nordestino, para que possamos um dia, ser uma nação forte, desenvolvida, pulsante, com desenvolvimento justo e equilibrado, entre as regiões e com respeito ao povos tradicionais, ao meio ambiente, as florestas, por um Estado forte e capaz de resolver os grandes problemas da sociedade brasileira.

POR UM BRASIL LIVRE, SOBERANO E EQUILIBRADO.



Por Raimundo Augusto de Oliveira - Caja (Sociólogo/Analista Político)