Cresci chamando Mãe Aninha como quem chama uma vozinha querida. No Colégio Nossa Senhora de Lourdes, onde estudei por 12 anos, passava diariamente na praça que leva seu nome, que despertava curiosidade sobre aquela que tinha seus restos mortais enterrados abaixo do busto do filho – Padre Rolim – e sempre sentia uma energia diferente, como que fosse um aceno silencioso vindo da praça. Eu não sabia; só amava.

Meio século coube em um suspiro quando a genealogista paraibana Ana Clara Maia puxou um fio de nomes e certezas – e o novelo trouxe a casa inteira. Descobri que Mãe Aninha é minha avó em 7ª geração. A palavra “matriarca” ganhou uma cadeira na sala, uma xícara no pires, um retrato na estante.

Revejo a menina que fui, mochilinha no ombro, atravessando a rua como quem atravessa o tempo: do colégio à Rua Santo Antônio, dos cadernos aos desfiles de 7 de Setembro, dos jogos escolares à Catedral, da praça da Igreja com coreto ao morro do Cristo, do pôr do sol no Açude Grande ao sobe e desce da Praça João Pessoa, dos três cinemas às subidas das ladeiras de bicicleta, dos carnavais nos clubes – das datas secas aos laços que as irrigam. E penso que a cidade nasceu de uma casa — e a casa nasceu de uma mãe. No mapa íntimo de Cajazeiras, minhas veias desenham o caminho de volta.

Agora que sei, não muda o amor; muda o alcance dele.
Mãe Aninha não é só personagem das aulas: ela está no meu tronco, na minha seiva, nos meus ancestrais, no meu DNA e na minha história.
E quando eu digo “obrigada”, agradeço por me ter antes de eu saber — é porque tudo tem muitos significados.

Como pude crescer sem nunca ouvir de meu pai essa história? Só agora, enchendo meu tio Raimundo de perguntas, ele me deu pistas, nomes, fios soltos… E assim fui desenlaçando, com a ajuda de uma profissional em pesquisas genealógicas, os mesmos novelos que Mãe Aninha fiava com suas mãos. Aqueles novelos que ela transformava em pão para os pobres, hoje se transformam em laços de memória, que me ligam a ela em amor e sangue.

A constatação de parentesco não só confirma documentos, como ressignifica a minha trajetória de vida. Esta pesquisa feita  iniciou-se a partir da possibilidade de antepassados com origem em judeus sefarditas, pensando no reconhecimento de nacionalidade portuguesa.

ao meu lado – Ana Clara Maia(Pesquisadora/Genealogista)

Como bem disse Ana Clara, “nesse percurso, a genealogia pessoal reencontra a história de Cajazeiras e reaviva a memória dessa mulher potente que existe por trás do educador dos sertões, que é Mãe Aninha — avó de Edileide em 7º grau, ou seja, sua neta da 7ª geração pelo lado paterno”, reconhece a pesquisadora.

Ana Clara sempre me dizia que a pesquisa genealógica é “um processo interessante e cheio de surpresas, tudo comprovado com documentos, certidões de nascimento, de óbito, livros, narrativas de memória oral, que vão se entrelaçando como uma teia”.

O relatório apresenta a comprovação documental da minha ascendência a Ana Francisca de Albuquerque (Mãe Aninha), mãe do Padre Inácio de Sousa Rolim, figura axial na formação histórica de Cajazeiras (PB). A pesquisa está toda fundamentada com provas paroquiais e fontes secundárias (biografias e estudos históricos). As evidências sustentam a linha ascendente pelo ramo de papai que foi muito conhecido em Cajazeiras por Antonio do posto, Antonio da bomba, Antonio do clube 1º de maio, mas o nome dele mesmo é Antonio Conrado, e é dele que vem toda essa história.

A LINHA DE PARENTESCO

  1. Ana Francisca de Albuquerque (Mãe Aninha) (heptavó – 7ª avó, ou avó em sétima geração) – n. 1775; cas. 10/02/1795; ób. 22/08/1854; cônjuge: Vital de Souza Rolim. (FESC Diocesano, FamilySearch)
  2. Antonia Tereza de Jesus (1810) (hexavó – 6ª avó)
    Filha de Mãe Aninha. Casou-se com Joaquim Gonçalves da Costa.
  3. Josefa Maria da Conceição (1830) (pentavó – 5ª avó)
    Filha de Antonia Tereza. Casou-se com Francisco Gonçalves Sobreira; registro conexo de batismo de Maria (prova de contexto).
  4. Anna Josefa Sobreira (1850) (trisavó ou 4ª avó)
    Filha de Josefa Maria. Casou-se com André Vidal da Cunha.
  5. Vital de Souza Rolim Sobrinho(TATARAVÔ/Edileide) – n. 01/07/1865; bat. 30/07/1865; cônjuge: Rita Rolim de Albuquerque.
  6. Eudócia Rolim de Albuquerque(BISAVÓ/Edileide) – n. 30/10/1891; cas. nov/1914 com Celestino Conrado da Silva; ób. 01/12/1964.
  7. Maria Celestino Conrado (AVÓ/Edileide) – n. 1912; ób. 13/11/1989
    Filha de Eudócia. Casou-se com José Henrique Bezerra.
  8. Antonio Conrado Bezerra(PAI/Edileide) – n. 17/11/1940; ób. 10/07/2012.
    Filho de Maria Celestino. Casou-se com Maria Augusto de Oliveira.
  9. Edileide Oliveira Bezerra Vilaça – n. 21/12/1971 (Cajazeiras).
    Filha de Antonio Conrado Bezerra.

A literatura registra que, de Ana Francisca (Mãe Aninha), “procedem os Rolins de Cajazeiras”, destacando-se o Padre Inácio. A filiação e o casamento de 1795 são dados recorrentes em repositórios e crônicas históricas, reforçando seu papel de matriarca na gênese simbólica da cidade. (Instituto do Ceará, Ramos de Uma Grande Árvore, fescdiocesano.com.br)

Referências

          Fontes primárias / registros
Arquivo pessoal da autora (compilação genealógica com vínculos e índices paroquiais).
– FamilySearch, verbete Ana Francisca de Albuquerque (L7F2-RLS); índices correlatos (casamentos/óbitos). (FamilySearch)

            Fontes secundárias / historiografia
LEITÃO, Deusdedit. Vida e Obra do Padre Rolim (Senado Federal, 2000); e O Educador dos Sertões (1991). (Editora Científica Downloads, Google Livros)
Instituto do Ceará.Rolins, Cartaxos e Afins” (1960). (Instituto do Ceará)
Memória local: FESC Diocesano – “História” (menção ao casamento de 1795). (fescdiocesano.com.br)