Por muitos anos, discutir as demandas relativas ao Centro histórico de João Pessoa já se tornou corriqueiro pelas mais variadas instâncias estaduais, municipais e demais poderes sejam eles legislativos, judiciários e sociais. Recentemente foi realizada uma audiência pública pela Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), na tarde do último dia (08), onde reuniu representantes de diversas entidades, Prefeitura municipal, além de comerciantes que atuam na região. No entanto, os principais protagonistas que são os moradores da localidade não foram convidados e alguns representantes da sociedade civil também não tiveram voz.
Mais o que será que pensam os que representam e fazem todos estes ‘poderes’ em relação quem são os verdadeiros personagens daquela área? Pois é, ali habitam vidas. Além de um sítio histórico de três séculos, este território é também ocupado por pessoas, e estas pessoas precisam de seus direitos assegurados e suas necessidades, como a segurança, acessibilidade, limpeza, iluminação, campanhas educativas, empreendedorismo, moradias e também de respeito. Eles são parte também deste processo de vitalização e restauração de nossa história e vivem no dia a dia a realidade desta localidade.
As ruas do bairro Varadouro são visitadas diariamente por turistas, mas os habitantes são apenas meros invisíveis. A discussão sempre passa pelo que fazer para valorizar o Centro Histórico da Capital. Como estimular a abertura de novos negócios relacionados à cultura ou que estejam abertos durante a noite, para, assim, expandir a atividade econômica na localidade.
De fato, proporcionar tudo isto com uma efetiva programação cultural ao longo do ano, tendo segurança na área, haveria, com certeza, ser usufruído pela maioria da população pessoense, sem muitos problemas, numa área potencialmente reconhecida como celeiro e condutora de nossa cultura e dos belos cartões-postais e efetivamente, com a participação dos habitantes. Mas o que ocorre com frequência, isto há décadas, os ditos habitantes não são inseridos nas eventualidades, em sua maioria com sonoridades altíssimas e desagradáveis aos seus ouvidos, e apenas herdarem grande quantidade de lixo e os odores que ficam após as festas.
O maquiador Bilie Batista Filho que mora no berço do Centro Histórico questiona, “será que se os órgãos públicos começassem a realizar um trabalho com os habitantes a exemplo de desenvolver a economia criativa e incentivá-los a valorizar a cultura e o turismo menos predatório não seria mais construtivo?”.
Já a professora de escola pública, Fernanda Inocêncio que também habita no Varadouro, disse “o que falta é mudar a percepção dos pessoenses em relação à parte histórica da cidade. É preciso mudar esta visão negativa. É claro que acontece um ou outro episódio de violência, na área. Mas isso é passível de acontecer em qualquer outro bairro de João Pessoa”, enfatizou.
Na opinião do artista multivisual Elioenai Gomes, morador e também gestor cultural do Centro Histórico, “é dever das gestões públicas, municipal e estadual, além de promover a cultura e a arte, promoverem ações afirmativas, políticas públicas que zelem do patrimônio histórico artístico-cultural da Capital Paraibana”. Para ele, “a solução seria uma administração pública que priorizasse os interesses dos que ocupam e vivem neste espaço, a que busquem apresentar soluções humanizadoras para combater a depredação e destruição de nossa herança, de forma diligente e transparente na construção de um centro histórico vivo”, destacou.
O dançarino Vant Vaz que reside na Vila Sanhauá – conjunto habitacional que funciona nos prédios históricos da Rua João Suassuna, no Varadouro, disse que “estar vivendo onde a nossa cidade nasceu e começou é a concretização de um sonho que guardo desde minha juventude. Viver no Centro Histórico é reencontrar nossa história e conviver com as possibilidades e riquezas da cultura local. No entanto, a realidade atual é lamentável, digna de grandes transformações e humanização”, concluiu.