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Essa frase não é minha – até que poderia ser, pois também concordo-, mas é da antropóloga e pesquisadora sobre o envelhecimento Mirian Goldenberg. Ela que nos últimos trinta anos vem pesquisando sobre essa a última fase da vida humana. A leitura dos seus livros nos deixa instigada a percorrer esse mundo da velhice, que por muitas vezes é renegado.  Ninguém quer ser velho. Como dizia Simone de Beauvoir na sua obra “A velhice,” velho é o outro. Em especial num mundo que atualmente se destaca pelas   relações sociais, econômicas e de produção frágeis, fugazes e maleáveis, como bem chama o escritor Zygmund Bauman:  modernidade liquida. Como ser velho nesses tempos tão rápidos, até mesmo tão tecnológicos?  E vejam que os velhos de hoje, considerados aqueles indivíduos a partir dos 60 anos, é da geração que fizeram uma revolução comportamental nos anos 1960 e 1970.
Uma geração que quebrou tabus, rompeu estigmas e preconceitos relacionados ao corpo, casamento, família, trabalho, a chamada geração agelless ou “sem idade”. Temos vários exemplos nos nossos ídolos; Caetano Veloso, Chico Buarque, Gil, Maria Betânia, Fernanda Montenegro, Marieta Severo….quem não gostaria de ser como eles? brilhantes, ativos, inteligentes, criando, trabalhando, cantando, vivendo. Porém o envelhecimento não é um fenômeno igual para todos, existe vários tipos de velhice, a minha não é igual a sua e vice versa, principalmente num país repleto de condições extremamente desiguais, com dificuldades de acessibilidade em todos os níveis, seja de transporte, moradia, saúde, educação, lazer. Em que muitas vezes as pessoas idosas são responsáveis pelo sustento da família, seja pela sua mísera aposentadoria ou pelo auxilio BPC.  Eu mesma venho acalentando um sonho desde que fui trabalhar na Vila de Ponta Negra, observando os idosos que adentro as suas casas (sou enfermeira da Estratégia de Saúde da Família) e percebi que as pessoas idosas que ali vivem não conseguem descer para a praia a pé, às vezes não consegue andar pela própria vila repleta de calçadas e calçamentos íngremes. Falta acessibilidade. Falta planejamento. Falta inclusão. Imagina descer e poder caminhar e tomar um banho de mar. O meu sonho se chama “a construção de um elevador”, para que todos tenham acesso e possam usufruir do que tem de mais belo ao seu redor, o cartão postal mais lindo da cidade de Natal, a praia de Ponta Negra. Parece meio louco ou utópico, mas como não sonhar por dias melhores? São tantas razões para se refletir sobre o envelhecimento que esse texto não vai dar conta. Pensei aqui numa palavra, invisibilidade e aí me recordo de uma história de recomeço de vida. Uma amiga, na época com 50 anos, separada, filhos criados, foi morar com um deles, e não é que de repente ela se viu invisível, as pessoas (filhos, neto, nora) passavam por ela, às vezes nem sequer a cumprimentava, até que um dia ela se perguntou: o que estou fazendo aqui? Ficarei predestinada até o fim dos meus dias a essa vida? Dessa forma jogou tudo para trás, e mudou de cidade, fez um curso superior (de artes), alguns cursos de especializações, e hoje sabe onde está essa senhora nos seus 71 anos? Brilhando nos palcos lusitanos.  Tenho outro exemplo, minha mãe, com 85 anos, é dona do próprio nariz, sábia, extremamente vaidosa, corajosa, perspicaz, generosa, uma mulher que não tem medo de ir à luta. E por último venho falar de uma bela dama de 80 anos, moradora da Vila de Ponta, Rainha dos Congos de Calçola, a Mestra, rendeira que no seu gingado canta versos do mar e de pescadores, a sua chegada ilumina todos os espaços com sua vivacidade. São diferentes velhices, cada uma com suas histórias e formas de viver essa fase.

E então, porque não dizer que Velho é lindo?

 

Meine Siomara nasceu entre o mar e o sertão, na cidade de Mossoró/RN e passou a sua infância em Areia Branca/RN. Mestre em Enfermagem, Historiadora, Membro do Coletivo Literário Zila Mamede e mãe de Vitor e Maira.