“A ideia é outra.”

Aranha sofre do mal da vanguarda; tudo nele renasce sempre e continuamente. A obedecer os manuais de clichê, nos quais afogamos-nos à moda, ele é dialético: muda sempre, qualitativa e quantitativamente.
O que não estava na sua contabilidade vital era o carma mitológico: o tempo cobrando à ideia o pacto que celebrou com o céu: não ter sucessor. Aranha sofre dessa falta.

O tempo finge capitular, e até transfere ao destino a sua cobrança, mas ele chega depois todo armado; e esse destino não antecipa as faturas, porque prefere cobrar a devedores insolventes.
O que Chronos não conhece é a capacidade de Aranha não se repetir e conseguir viver de oportunidades; nele A IDEIA É OUTRA – sempre.

Quando Chronos pensa em vencer a Titanomaquia, a ideia vaza, escapa, mesmo tendo que viver no retiro. Não há o mesmo Aranha, em nenhum momento. Daí que é impossível derrotá-lo.

Aranha está no retiro, sem nenhuma necessidade piegas ou de comoção. Poderia estar se reiventando – ‘comme d’habitude’.

Não será mais o criador dos festivais da canção, ou a origem da tropicália, ou o estudante das ruas contra a ditadura, ou o produtor de shows (os menos comerciais), ou o compositor, ou o poeta, ou o jornalista de verdades, ou o mágico que atrai e vê talentos.

Creio que nem será o amigo enérgico na defesa das suas amizades. Comigo, ele foi determinante: Em princípios dos anos 80, permitiu-me publicar no vetusto e premiado ‘Correio das Artes’ alguns poemas. Depois, defendeu-me, de maneira aguerrida, de um atrevimento de alguém que, numa solenidade, zombava de minha indumentária.

Creio que nem será o Aranha gerente público, como aquele que, nos ditos anos 80, promoveu um programa de apoio à cultura, sem decisões de alcovas ou muros ideológicos, cujo fim foi a música paraibana dos anos seguintes, pronta a ser exibida ao mundo.

Aranha é Carlos Antônio Aranha, jornalista paraibano, um dos pilares da cultura local, e a personificação dos anos 60 (ainda como o sonho de época).
Precisamos visitá-lo para reconhecê-lo.
Obrigado.

‘Dixi et salvavi anima meam!’