A imagem que ilustra este texto é uma fotografia noturna tirada a partir da Estação Espacial Internacional e abrange as regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Estas duas regiões do país correspondem a apenas 17,5% do território nacional, porém, são nelas que a maioria das coisas acontecem no Brasil em termos de economia, política, emprego e renda. Mas, mesmo considerando apenas a imagem, muitas análises em Geografia e Sociologia podem ser feitas. Por exemplo, consegue-se:
Identificar claramente as áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro;
Identificar o corredor viário da BR 116 (Via Dutra) ligando as duas maiores áreas metropolitanas do Brasil. (ver esse traçado ligando as duas áreas mais luminosas da foto – é a Rodovia Presidente Dutra);
Perceber que a Via Dutra está se tornando uma grande avenida comercial de 400 km de extensão, tamanha é a urbanização e o desenvolvimento ao longo de suas margens, assim como em todo Vale do Rio Paraíba do Sul, com suas dezenas de cidades, com destaque para São José dos Campos (SP) e seu polo tecnológico.
Mas devemos constatar também que a poluição luminosa intensa indica mais do que densidade populacional e indústrias. A área coberta por essa foto responde também por 70% do PIB do Brasil, tornando maior a renda per capita de 55% da população brasileira que habita as duas regiões mais ricas do Brasil.
No entanto, as maiores diferenças com relação às demais regiões brasileiras a foto não mostra:
No Sul e Sudeste estão as melhores escolas e universidades públicas do país;
O Sul e o Sudeste, apesar da violência nos morros do Rio de Janeiro, têm o menor índice de homicídios do Brasil;
Nessas duas regiões estão os melhores hospitais e a melhor e maior rede de saúde pública e privada do país;
Aí estão as cidades brasileiras que oferecem a melhor qualidade de vida à sua população – principalmente no interior – e por conseguinte, aí também estão os melhores indicadores, educacionais, de renda e de longevidade do Brasil (IDH);
No Sudeste e Sul se encontram as melhores rodovias do Brasil e a maior malha de trens urbanos, assim como de tráfego aéreo;
Nessas duas regiões se encontram as duas cidades brasileiras mais cosmopolitas, consideradas “cidades globais” e cartão de visita do país. E por isso mesmo Rio e S.Paulo (cidades) têm um papel muito importante aos olhos do mundo, sob os mais diversos aspectos: sejam culturais, econômicos, históricos, turísticos, etc.
Grande responsabilidade também têm os políticos guardiães do orçamento público da União com a destinação dos nossos recursos. Se 70% da arrecadação total do Brasil vem do que é produzido e gerado nessa fatia de 17% do nosso território, não é preciso ser gênio para saber que estamos falando de um Brasil muito desigual, espacial e socialmente falando. É preciso que o nosso desenvolvimento se estenda para outras regiões e para outros polos urbanos. As iniciativas políticas nesse sentido, até aqui, se mostraram muito tímidas se imaginarmos que tamanha disparidade vem atravessando séculos, desde a colonização. Descentralizar é preciso; incluir é urgente. Mas tudo dentro do que se convencionou chamar de sustentabilidade. O Brasil será melhor se for completo, sendo a responsabilidade com a gestão dos recursos públicos, imprescindível.
Dermival Moreira
É bancário aposentado, com Licenciatura em Geografia na UFPE e é autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.