Compre; pague; venda; venha; aceite; conduza; entenda; case; ame; busque; sonhe; realize; corra; salte; entre; suba; vá; abra; ande; feche; levante; pare! Os seres humanos estão loucos. Com tantos imperativos, a ordem é esmagadora: vença. Não fique para trás. Esteja plugado com o mundo e antenado com as ideias vigentes.

Modele-se; mexa-se; movimente seu corpo; sua conta; suas emoções. Experimente, diz a cerveja! Provai e vede, diz o profeta. A sociedade consumista, representada numa latinha descartável de coca, não cola; ou melhor, não descola. Todos estão na mesma, não se compreendem. A afetividade entre homens e mulheres está mais rara. Os relacionamentos, cada vez mais efêmeros… em uma maioria considerável não dura mais do que três anos. As pessoas têm pressa e vão nessa. Fecham-se em guetos emocionais procurando alguém que as impeça de ouvir o barulho que faz a sua própria solidão.

Então é preciso acelerar. Corra muito até ter a impressão de que os outdoors com sua função conativa e ideológica, lá do lado de fora, não te alcançam... Eles traduzem códigos da sociedade e te dizem: pilote sua vida; faça seu caminho. É preciso saber viver. A todo instante milhares de ideologias perniciosas nos ensinam uma postura bem peculiar, que encerra cada um na sua catacumba emocional: não esteja nem aí. Não se posicione (e aí você já assume uma posição). Deixe a vida lhe levar. Faça de tudo uma eterna festa e mate os outros de inveja.

Use seu semelhante. Escolha seus pares baseado em critérios diversos e o faça nem que seja para se autoafirmar. Desfilar com aquela mulher, ou aquele homem, mostra aos amigos o poder que você tem. Cuide do seu carro – ele reflete seu refinamento. Você não precisa de amigos. Conquiste aliados. Apareça e pareça. Isto é bem antigo. Os gregos já postulavam a respeito da importância do ethos. Construa uma imagem e viva (ou morra) por ela. Assim, ninguém verá a criança insegura e renga escondida dentro de você...

Talvez seja por isso que os consultórios dos terapeutas estejam abarrotados. Todos cheios e tão paradoxalmente vazios. É preciso saber parar. E somente cada um de nós sabe como e onde enfiar a chave que desliga a força da engrenagem. Conhece-te a ti mesmo, diz o filósofo. E conhecereis a verdade e ela vos libertará, disse o maior deles. Meu pensamento se coaduna com o pensamento de ambos e se faz necessário buscar a verdade. Porém, precisamos encarar de frente nossos fracassos, mesmo que os guardemos conosco, no mais profundo do nosso ser.

É necessário entender o nosso valor e aceitarmos o valor do outro. Aquilo que você quer que as pessoas lhe façam, faça você primeiro a elas. Ame. Trate bem. Critique sem ferir. Busque a harmonia. Não espere pelo outro. Faça você primeiro. E se cada um agir desse modo, certamente as agruras serão atenuadas.

Pode ter quem chame de utopia e isto é o começo da inércia. Então continuaremos, como num filme desesperador, à espera de um milagre, quando Deus já nos disse o que fazer: amar ao próximo como a nós mesmos. Trocando em miúdos, não dê ao outro o que não gosta de receber.

É, caros leitores, em dias atuais, nem no seu cabeleireiro você pode confiar; ele deixa ponta no seu cabelo e diz que é última moda em Paris ou em lugares que você nunca foi e por isso não tem como comprovar. E você ainda se sente diminuído e fica quieto para não ficar evidente que não é um sujeito descolado, viajado. Para nossa sociedade moderna, o lucro é a prioridade.

E assim, caminhamos para as salas de psicólogos, psiquiatras, e, finalmente, às salas de necrotérios. “Tolo! Esta noite pedirão a tua alma. O que tens preparado e para quem será…”.

 

Beth Milanez é cantora, escritora, publicitária, produtora cultural e professora. Já foi premiada no Concurso Zila Mamede de Poesia, do Jornal Potiguar Notícias e também escreve folhetos de Literatura de Cordel. É autora dos livros Uma Feira Livre e Belinha, a Baleia Cantora, duas fábulas para o público infantojuvenil.