Música nordestina fica restrita ao São João e madrugadas
A meia dúzia de três ou quatro que leva a sério o que escrevo deve concordar comigo quando digo que gosto musical é algo construído sob influência do tipo de música que a pessoa ouve sem querer ou querendo nos diversos meios e plataformas disponíveis no espectro da comunicação. Do rádio à internet, da televisão aos streamings de mídia.
Bateu-me essa digressão em plena manhã deste sábado, 17 de junho do ano da graça de 2023, após ouvir dois combativos comunicadores da imprensa pessoense defenderem com toda a potência do microfone a prevalência da verdadeira música nordestina nos shows das festas juninas do Estado e região em que vivemos. Palmas para eles!
Mas, peraí… Tamanha e justa veemência ouvi justamenteem uma emissora da capital que mais toca o avassalador “sertanejo”! Experimente sintonizá-la em qualquer mês que não atenda pelo nome de Junho. Até São João ou pósSão Pedro, a maioria das rádios paraibanas segue a trilha do peão de Barretos, não do forrozeiro origem de Santa Luzia.
Faz sentido, portanto, a gente ver tanto jovem daqui e de estados vizinhos fascinado pelos Gustavos Limas, Luans, Zé Netos, Cristianos, Mateuses e Kauans. Eles só ouvemou assistem no período junino – e olhe lá! – um Flávio José, um Santana, uma Eliane, um Jorge de Altinho… Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Marinês, Biliu? Muitos não devem saber quem são.
Bem, trabalhadas ou não no velho jabá, por quase todo o ano – ressalvada as honrosas exceções de sempre e as treguazinhas de São João e Carnaval – só dá sertanejo nessas rádios! Com alguma concessão ao piseiro e ao ‘forró de plástico’, estilo disseminado por aqui mesmo, mas identificado por letras ofensivas às mulheres ou de exaltação à cachaça, fossa ou esbórnia de chifrudos.
Xote, xaxado, baião, repente, samba de coco, ciranda e outras criações genuínas que são marcas da culturaregional chegam aos ouvidos e olhos da audiência de forma extremamente episódica e desproporcional, quando comparadas ao espaço ocupado por astros de cachês milionários envoltos em mistérios que vão do cheiro de rachadinha à lavagem de dinheiro.
Rubens Nóbrega
Escritor e Jornalista desde 1974. Integrante do Observatório Paraibano de Jornalismo.